Na serra da Lousã temos dois pontos altos que são irmãos gémeos. Trevim e Santo António da Neve. Praticamente à mesma altura, não muito distantes, mas com um vale profundo a separá-los e também a intervenção humana.
O Trevim e Santo António da Neve identificam-se facilmente devido às antenas.
No Trevim o baloiço direciona a perspetiva para o castelo e a vila de Lousã. Santo António da Neve tem a ermida e alguns dos antigos neveiros, construções de pedra onde se guardava gelo que era depois transportado para Lisboa.
Pouco mais se regista de intervenção humana. Aliás, para lá chegarmos, a partir de Coentral, temos de utilizar uma estrada de terra batida.
Esta encosta da serra, a partir de Castanheira de Pera, tem uma menor marca da intervenção humana. Pequenas aldeias, com pouca gente. Até um café ou um restaurante não é fácil de encontrar.
Um dos lugares mais visitados no Verão é a Praia Fluvial do Poço Corga. Noutras alturas do ano é um lugar cativante devido à beleza natural com a ribeira de Quelhas. Tem também o núcleo museológico que permite ver a estrutura de um antigo lagar de azeite.. Por estes dias o ambiente isolado e natural é o mais atraente.
Estamos sensivelmente a uma dezena de quilómetros do Coentral Grande, a aldeia que fica no ponto mais alto da serra da Lousã. No topo é Santo António da Neve e as eólicas que estão sempre presentes no horizonte.
O ambiente calmo, natural e marcadamente rural é confirmado por Sónia Tomás, da Casa do Tempo, em relação a outras aldeias na encosta da serra. Uma das mais relevantes é Pera.
“Ao irmos para Norte já vamos apreciar e descobrir o encanto da serra da lousã e Pera será das aldeias mais antigas do concelho. A capela velha de Pera é apontada como o monumento mais antigo do concelho.”
A capela é pequena, em pedra e datada do final do seculo XVII.
A porta estava aberta, o que é raro nos dias de hoje. O interior revela simplicidade e beleza. É dedicada a S. Sebastião que ocupa lugar central no altar. Há uma divisória metálica no acesso ao altar que tem o teto de madeira pintado de azul.
A igreja está num pequeno largo, mas o acesso é feito por ruelas muito estreitas.
Num dos extremos da aldeia vemos outra capela, mais recente, maior e com coreto. Fica próximo do Grémio Recreativo União Perense, um dos poucos cafés na subida até ao Coentral Grande.
Aqui, a grande atração da terra onde viviam os neveiros é o passadiço da Ribeira das Quelhas que nos oferece uma vista fantástica desta parte da serra da Lousã e o vale que orienta a ribeira até se juntar à ribeira de Pera.
A aldeia perdeu população. Dona Zulmira é uma das habitantes e encontrei-a com um rebanho de cabras. É a sua atividade nos últimos anos depois de ter terminado o trabalho nas duas pequenas unidades de lanifícios.
O Coentral Grande destaca-se pelo enquadramento natural na serra e pelo património que tenta preservar, designadamente o que está associado à antiga atividade de produção de gelo nos neveiros. “E também muito peculiar pelo casario, pelas ruelas, a igreja matriz e pelo seu núcleo museológico, a Casa do Neveiro, onde podemos ver, recordar, roupas e utensílios que faziam parte da vivência dos nossos antepassados.”
Sónia Tomás refere ainda que devido a uma presença assinalável de casas de xisto há a expectativa do Coentral Grande vir a fazer parte da rede das Aldeias de Xisto.
Roteiro na Lousã por Pera e Coentral até Santo António da Neve faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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