Nuno Teotónio Pereira faria ontem, 30 de Janeiro, 100 anos. Nasceu em 1922 e faleceu a 20 de janeiro de 2016. Foi um dos notáveis arquitetos portugueses. Marcou a renovação e modernidade da arquitetura em Portugal em meados do século passado.
Nuno Teotónio Pereira afirmou-se contra o formalismo e o tradicionalismo. Mesmo a nível político. Foi uma das figuras que se destacou entre os chamados católicos progressistas.
Como autor e coautor ganhou três prémios Valmor. Um dos mais conhecidos é o Franjinhas, na Rua Braamcamp, em Lisboa, inaugurado há 50 anos.
Outro prémio Valmor, em 1975, e em coautoria com o arquiteto Nuno Portas, é o da igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Rua Camilo Castelo Branco, em Lisboa. Foi classificada como Monumento Nacional em 2010.
Também na arquitetura religiosa Nuno Teotónio Pereira foi um defensor de um traço moderno e integrou o MRAR – Movimento de Renovação de Arte Religiosa.
Um dos primeiros projetos foi a igreja de Águas, no concelho de Penamacor (a construção teve lugar entre 1949 e 1953).
Por sua vez, a igreja Paroquial de Almada, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, é de maior dimensão, foi inaugurada em 1969, um ano antes da do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa.
São praticamente irmãs gémeas.
No entender do arquiteto Bruno Queimado Rosa, “a do Sagrado Coração de Jesus tem uma relevância, como obra arquitetónica, acima da de Almada.
Ambas são óptimos exemplos do que é a arquitetura do MRAR e também da arquitetura produzida por Nuno Teotónio Pereira.”
Bruno Queimado Rosa tem uma ligação profissional com a igreja de Nossa Senhora da Assunção. Teve a seu cargo a substituição de algumas peças originais como por exemplo o altar, o ambão, e a presidência.
“Foi um trabalho minucioso. Houve um estudo prévio dos elementos que constituem o altar, respeitando sempre o existente e a própria arquitetura do edifício.
Foram mantidas as escalas e a localização das peças. Só foi feita uma atualização ao nível da materialidade, ao encontro das necessidades do espaço.”
A igreja é de uma só nave, muito grande, com a cobertura inclinada e tem a particularidade dos materiais crus e simples.
A madeira, o betão à vista nas escadas, nas paredes e num enorme balcão que contorna uma parte significativa do espaço e nos encaminha o olhar para o altar.
Aqui sim, as cores são vivas, domina o branco e atrás do altar um baixo relevo do escultor José Nuno da Câmara Pereira.
Parte desta estrutura está tapada com uma tela monumental e colorida da Assunção da Virgem Santa Maria, da autoria do Arquiteto Sousa Araujo.
“Originalmente o baixo relevo não tinha a pintura. Algumas pessoas com quem falei e são do tempo da construção da igreja, sempre sentiram o espaço muito frio devido ao betão e à falta de decoração religiosa. Estavam habituados a um estilo decorativo.
Esse painel atrás do altar é uma introdução por cima do relevo que não tinha coloração. É uma alteração na igreja”.
Foi no mesmo sentido introduzida uma via sacra. É um painel de azulejos, de cor vermelha, que percorrem as paredes e são da autoria de Manuel Cargaleiro.
Uma peça que se destaca, próximo da entrada, é a pia batismal. É toda branca, redonda e o interior é constituído por uma cavidade definida por linhas circulares por onde escorre a água.
“Foi desenhada por Teotónio Pereira.” Ainda nas palavras de Bruno Queimado Rosa, “dos elementos que compõem o mobiliário é o único de que há registos de que tenha sido ele a desenhar. Tem a forma redonda, a água faz um percurso quando cai e realmente é muito interessante.”
Nuno Teotónio Pereira procurava uma relação dos materiais das igrejas com o contexto local. Outra preocupação tinha a ver com a inserção dos edifícios no meio urbano. “A igreja do sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, ao nível da inserção no espaço urbano está muito discreta, quase que não se dá por ela.
Teotónio Pereira deu muito relevância à inserção urbana dos edifícios e no caso da igreja de Almada também teve esse objetivo. Está inserida numa zona que era um jardim, com topografia acentuada. Devido às caraterísticas do edifício pode-se destacar, mas a nível do alinhamento e inserção urbana o enquadramento é muito bem feito.”
O projeto tem outras valências, embora na altura da sua construção tenha ficado incompleto.
Num outro patamar, é também de assinalar o trabalho inovador desenvolvido por Nuno Teotónio Pereira em projetos de habitação Social.
Centenário do nacimento de Nuno Teotónio Pereira – um dos mais relevantes arquitetos portugueses faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.