“São modestos os nossos museus, e se abundam as igrejas são poucas, se há algumas, as que pedem meças à Sé de Miranda, ou às matrizes de Moncorvo e Freixode-Espada-à-Cinta“.
Trás-os_montes, o Nordeste; J. Rentes de Carvalho
Cheguei ao final da tarde de um dia soalheiro a Torre de Moncorvo. Ainda estava na enorme subida da serra e fiquei logo impressionado com a beleza da igreja Matriz ou da Nossa Senhora da Assunção.
Um edifício que se destaca claramente no meio do casario pelo seu volume e pelo trabalho em pedra nas paredes e nos pórticos. Destacam-se de imediato as gárgulas que povoam cada dobra da fachada. O edifício ganha mais realce com o tom dourado do por do sol. É uma obra do século XVI, ao estilo maneirismo, um renascimento tardio.
Na altura da sua construção Torre de Moncorvo era a maior comarca do reino e tinha um desejo secreto revelado pelo historiador Nelson Rebanda: “há vários anos aventei a hipótese e penso que é a única que justifica esta dimensão desmesurada à escala da vila de hoje e seguramente à época do século XVI. A vila teria pouco mais de milhar de habitantes.
A razão terá a ver com um desejo algo secreto de se criar aqui uma nova diocese. Os senhores arcebispos de Braga raramente vinham aqui. Não há registo de algum ter vindo na Idade Média. Os arcebispos quando chegavam a esses cargos já eram muito idosos e o interior transmontano ficava desguarnecido no plano espiritual.”
Ainda na opinião de Nelson Rebanda “com o dinheiro dos Descobrimentos, e em particular após a chegada dos judeus expulsos de Espanha, começa-se a sentir a necessidade de se promover a criação da diocese.”
A competição para a criação da diocese e com Freixo de Espada à Cinta e Miranda do Douro. Foi ganha por Miranda, após decisão de D. João III em 1545.
Ficaram na região duas igrejas monumentais e com algumas semelhanças. No entanto, a de Freixo de Espada à Cinta foi pioneira em Portugal nas chamadas igrejas salão.
O interior da igreja de Torre de Moncorvo é amplo, a luz natural dá profundidade aos tectos e recanto aos quatro retábulos laterais. O que mais se destaca é o do altar-mor que tem muitos detalhes.
É de estilo barroco e resulta de uma renovação realizada no século XVIII após a chegada do ouro do Brasil que ainda reluz em algumas figuras.
Dos retábulos originais ainda podemos ver o do Santíssimo Sacramento, de estilo maneirista e dos princípios do século XVII. “É exatamente aí, onde está também um gradeamento em ferro, que se encontra um tríptico. É uma peça de arte flamenga do principio do século XVI.
É notável porque é um exemplo do Renascimento do Norte da Europa. Representa o casamento de Sant’Ana com a sagrada Parentela. Já esteve em várias exposições de âmbito nacional.”
Em meados do século passado o tríptico foi roubado a mando de um erudito em arte que se apaixonou pela peça. Foi condenado à prisão e já em liberdade terá passado novamente pela igreja para contemplar mais uma vez o tríptico. O povo é que ficou desconfiado e alguns anos depois foi um sarilho quando o tríptico foi levado para restauro em Lisboa. O sossego só voltou quando uma delegação obteve garantias de regresso da obra.
Outra peça que foi também recentemente restaurada, em 2016, foi o órgão. Destaca-se pela sua dimensão e pela estrutura tubular. Foi construído em 1778 aproveitando pelas de um outro exemplar que também estava na igreja.
A igreja matriz de Torre de Moncorvo está classificada como Monumento Nacional.
Competição para Catedral: A candidata nº 2, Torre de Moncorvo faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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