Dornes é uma pérola do Rio Zêzere. É conhecida pela sua beleza natural e até foi eleita uma das maravilhas de Portugal na categoria de aldeias ribeirinhas.
Esta quarta-feira, 15 de Agosto, Dornes revela uma outra marca da sua história: a riqueza cultural e religiosa.

Desde a idade média que todos os anos 43 paróquias da região fazem uma peregrinação ao santuário de Nossa Senhora do Pranto. As peregrinações têm lugar entre a Páscoa e Setembro e os romeiros vêm oferecer o seu círio à santa.

Círios antigos
Círios antigos

O círio é uma vela, grande e com inscrições e desenhos. Cada círio tem uma data própria, percursos diferentes e também modos diferentes de chegar a Dornes. O mais comum é deslocarem-se carro. Decoram os veículos com flores e outros motivos de festa, como antigamente se fazia com as carroças.
Há quem também se desloque a pé e nos últimos anos alguns prefere chegar de bicicleta.

Dornes fica numa pequena península no meio do Zêzere, no concelho de Ferreira do Zêzere
Dornes fica numa pequena península no meio do Zêzere, no concelho de Ferreira do Zêzere

Esta quarta-feira é a data que reúne maior número de círios. É a mais importante romaria e junta muita gente em Dornes, seguindo a tradição. O programa habitual é a missa, procissão, depois um lanche partilhado junto ao rio Zêzere e termina com um terço. De seguida é o regresso a casa.

Dornes tem pouco mais de 20 residentes permanentes mas nestes dias fica com muita gente
Dornes tem pouco mais de 20 residentes permanentes mas nestes dias fica com muita gente

Os romeiros vêm pedir proteção e apoio à santa, parecido com o fenómeno mais recente de Fátima que ofuscou e rede de santuários que existia nesta região.
Dornes é também local de passagem de muitos peregrinos para Fátima que são provenientes do distrito de Castelo Branco. Há organizações locais que promovem iniciativas para apoiar os peregrinos. Os que vão até Dornes e os que seguem para Fátima.

Igreja de Nossa Senhora do Pranto
Igreja de Nossa Senhora do Pranto

O ponto principal da peregrinação a Dornes é a igreja de Nossa Senhora do Pranto que está classificada como Imóvel de Interesse Público devido ao seu valor arquitectónico e cultural. A igreja terá sido mandada construir pela Rainha Isabel em 1285 e foi reconstruída no século XV. Por fora tem um ar austero, com uma escadaria a exigir um último esforço aos peregrinos. O interior é completamente diferente. Mais acolhedor e ornamentado. Logo à entrada destaca-se um órgão de tubos.

Igreja de Nossa Senhora do Pranto
Igreja de Nossa Senhora do Pranto

No altar está a imagem de Nosssa Senhora do Pranto feita em pedra e o tecto está repleto de caixotões com pinturas muito coloridas.

Círios antigos na sacristia da igreja
Círios antigos na sacristia da igreja

É obrigatória a visita à sacristia onde estão os caixotões com os círios mais antigos que foram guardados. Alguns remontam ao inicio do século XIX. Ficam aqui para as peregrinações seguintes e constituem um cenário invulgar. Dezenas de caixas estreitas e compridas, azuis, com uma abertura onde se vê a vela muito grande e com um efeito decorativo.
A igreja está num dos pontos mais altos do casario, com uma excelente vista para o rio Zêzere. Fica quase no extremos de uma pequena península que se atravessa no rio e que no passado tinha uma função defensiva.

Torre templária ao lado da igreja
Torre templária ao lado da igreja

O engenho dos templários

Foi por este motivo que os templários construíram uma torre que está mesmo ao lado da igreja. A torre é anterior ao templo religioso e foi a primeira a ser construída em Portugal com o formato pentagonal.

Um dos sinos da torre com vista para o Zêzeree
Um dos sinos da torre com vista para o Zêzere

Pode-se subir até ao último piso, onde estão os sinos.

Dornes e a torre vista do percurso ao longo do rio
Dornes e a torre vista do percurso ao longo do rio

Destaca-se claramente entre as casas e está sempre em quase todas as fotografias de Dornes, tipo “postal ilustrado” Uma das perspectivas mais interessantes é do alto da serra, a caminho de Vale Serrão. Outra vista fantástica é num passeio de barco no rio Zêzere.

Cais com barcos tradicionais e de turismo
Cais com barcos tradicionais e de turismo

Há vários barcos de recreio que nos levam a descobrir os típicos meandros do Zêzere. Há também os barcos tradicionais. São os barcos de três tábuas, chamados de Abrangel. Em Dornes há o único construtor artesanal destas embarcações.

José Alberto Ferreira
José Alberto Ferreira

É o mestre José Alberto Ferreira que aprendeu a arte com o pai e mantém viva a forma como as comunidades em volta do rio passavam de uma margem à outra para irem à horta ou transportarem pessoas e mercadoria.

Nos dias de calor há quem se refresque num praia fluvial improvisada e que depende da vontade do Zêzere.

Pôr do sol do alto de Dornes, proximo da Torre
Pôr do sol do alto de Dornes, proximo da Torre

O pôr do sol é muito bonito. Contempla-se do miradouro da Torre ou junto ao cais.

Aproveite para saborear o peixe do rio frito
Aproveite para saborear o peixe do rio frito

Terminada a romaria pode haver arraial mas depois Dornes volta ao sossego, contagiado pela beleza natural e pela cordialidade dos pouco mais de 20 residentes permanentes.
Levar o círio a Dornes e deslumbrar com o Rio Zêzere faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, Levar o círio a Dornes e deslumbrar com o Rio Zêzere, pode ouvir aqui.

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