O Pulo do Lobo continua selvagem depois de ter deixado de ser um segredo bem guardado.
Hoje o ex-líbris do Parque Natural do Vale do Guadiana já entra nos roteiros turísticos mas continua agreste, arrepiante e indomável. A queda de água, as rochas, a força da natureza, o lugar isolado… tudo revela uma força selvagem e ao mesmo tempo de deslumbramento.
A catarata de 16 metros de altura e a água do Guadiana a fazer contorcionismo entre rochas afiadas ao longo de milhares de anos colam o nosso olhar a este prodígio da natureza.

O rio corre sereno por um vale enorme, com encostas altas e algumas marcadas por caminhos. Há uma antiga estação elevatória de água e metros depois acaba a harmonia.

A água ganha velocidade, cai nas cataratas e é engolida por um enorme vale de pedras que enrolam o Guadiana ao longo de centenas de metros.

Não se pense que são as rochas que levam a melhor. É a água que há milhares de anos provoca uma profunda erosão e que transforma o leito do rio, tornando-o cada vez mais profundo. O desnível do Pulo do Lobo formou-se na última glaciação.
Devido à erosão as rochas escuras têm formas invulgares. Algumas parecem completamente ocas com poças de água.

São os seixos arrastados pela água e num movimento circular desgastam as rochas e provocam estas concavidades.

Tudo isto aos nossos pés, com o olhar vertiginoso apoiado numa corrente metálica cujos apoios também já foram corroídos pela ferrugem.
Há unanimidade em todos os postos de informação para se ter cuidado e seguir as recomendações e o percurso sugerido.

Pode-se chegar por vários caminhos e há percursos pedestres pelos concelhos de Mértola e Serpa. Talvez o acesso mais fácil seja pela Amendoeira da Serra. Temos de entrar na Herdade Pulo do Lobo, abrir e fechar o portão e de seguida fazer o resto do caminho por estrada de terra batida.

O ponto final do percurso de terra batida é muito próximo da catarata.
Um pouco antes vale a pena parar para se ter uma visão de conjunto do vale, da longa garganta rochosa que encaminha o Guadiana para Sul.

Esta primeira impressão vai marcar o nosso olhar em todo o Parque Natural que tem uma especial relevância para a região conforme nos diz João Rolha, da Câmara Municipal de Mértola.

A necessidade de salvaguarda de algumas espécies ameaçadas como por exemplo algumas aves de rapina, está na base de uma importante componente cientifica e de investigação que está a ser realizada no Parque.

É também o caso da libertação do Lince Ibérico e da fauna do rio Guadiana onde se destaca o Saramugo.
O Lanternim é outra ave em risco. É visita habitual no Guadiana e tem um Centro Interpretativo em Mértola onde é também a sede do Parque Natural. As instalações podem ser visitadas.

A extensão do parque é de cerca de 70 mil hectares e tem algumas povoações dispersas. A paisagem foi influenciada pelo homem em horizontes enormes repletos de pinhal ou montados.

A Câmara Municipal de Serpa tem um projecto de construção de um passadiço no Pulo do Lobo. Pode ser uma mais valia importante para que a visitação seja mais segura e por mais espaços ao longo do Guadiana e da garganta rochosa.
A energia telúrica do lugar, mesmo com o passadiço, vai continuar a ser selvagem. Sem comunicações móveis, pelo menos de uma rede. Foi o isolamento que lhe deu fama com Cavaco Silva e, pelo menos na minha visita, os telemóveis continuam em silêncio.

O Pulo do Lobo selvagem faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui.
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