O vale do Guadiana foi fértil no contrabando. Apesar de 3 em 3 km haver postos de vigia dos Carabineros ou da Guarda Fiscal – por exemplo, entre Pomaraão e Vila Verde de Ficalho havia cerca de 15 postos – o comércio clandestino foi uma importante fonte de rendimentos para as famílias dos dois lados da fronteira.
A pobreza, a guerra civil em Espanha e a falta de bens essenciais foram determinantes para este tipo de actividade, em particular em meados do século passado.
João Rolha, do Turismo de Mértola, adianta que esta foi uma região de muito contrabando porque a população das minas de S. Domingos vivia numa situação de grande pobreza e procurava no contrabando uma forma complementar de rendimento.
O lugar de passagem era a sul das Minas de S- Domingos até Santana de Cambas onde foi aproveitado o antigo posto da Guarda Fiscal para se guardarem as memórias.
O Museu do Contrabando tem vários testemunhos de contrabandistas.
Estão gravados em vídeo e relatam como passaram as ribeiras, as dificuldades em tempo de chuva. Os grupos de quase uma dezena de pessoas em que cada um transportava uma mochila com 25 quilos de café, calçado ou pão. Dependia da época. Por vezes tinham de pernoitar mais tempo em Espanha ou descobrir novos caminhos.
Através dos testemunhos e dos mapas percebemos melhor a extensão da rota do contrabando.
Do lado português havia uma maior permissividade das autoridades, em alguns casos até se pode falar de cumplicidade. O contrabando prolongou-se por mais tempo até à vaga de emigração dos anos sessenta do século passado. Talvez seja uma explicação para o maior enraizamento cultural do contrabando na raia do lado português.
É muito frequente encontrar-se em outros lugares vizinhos do Guadiana referencias ao contrabando. Por exemplo, no Museu do Rio, em Guerreiros do Rio ou em Alcoutim onde as estátuas do contrabandista e do Guarda Fiscal são bem conhecidas dos visitantes.
Estão próximas do Guadiana e são objectos fotografados pelos turistas. É a evocação de memórias que marcaram algumas gerações dos dois lados da fronteira. Das gentes de Alcoutim e de Sanlúcar de Guadiana que têm laços familiares mas que durante muito tempo estiveram impossibilitados de se verem.
A excepção eram as festas em Alcoutim em que tinham permissão para se juntarem.
Estes tempos são assinalados com o Festival do Contrabando em que ligação entre as duas povoações é feita por uma ponte.
O Guadiana do contrabandofaz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, O Guadiana do contrabando, pode ouvir aqui.
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