O carnaval da Mealhada teve sempre uma forte critica social e foi uma marca que ganhou tradição.
No entanto, o carnaval deu uma grande volta em 1971. Foi neste ano que começou a fase actual do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada. Curiosamente tudo se deve à Santa Ana, à determinação de um militante comunista e à morte de Salazar.
Já se vai perceber o enredo.
A festa da padroeira local é a 26 de Julho e em 1970 teve de ser adiada porque morreu Salazar exactamente num dos dias das festividades.
Nesse ano o principal dinamizador da festa foi Luis Marques, militante do PCP na clandestinidade que apontava outra razão para o cancelamento da festa. Conta Nuno Canilho, vereador de Cultura da Câmara da Mealhada, que quando perguntavam a Luis Marques o motivo porque não havia a festa ele respondia que era por causa da vaca. É que no dia anterior tinha havido uma garraiada, a vaca fugiu e morreu trucidada por um comboio.
Fosse por causa da vaca ou de Salazar, o que ficou registado foi o défice nas contas da organização porque não houve festa. Para anular o prejuízo promoveram outro evento e apostaram num desfile carnavalesco. Lembraram-se de convidar estudantes brasileiros que andavam em Coimbra que eram conhecidos pela alegria que transmitiam em festas particulares.
É desta participação efusiva e bem sucedida dos estudantes brasileiros que nasceu o carnaval luso-brasileiro da Bairrada.
A iniciativa repetiu-se até 1974. Com a revolução houve um intervalo e regressou em 1978 já com um actor brasileiro a assumir o papel de rei do carnaval.
O primeiro foi o Jaime Barcellos, o Dr. Ezequiel da novela Gabriela Cravo e Canela. No ano seguinte foi, “a histeria colectiva” com Tony Ramos .
É também em 1978 que surge a primeira escola de samba na Mealhada, os Sócios da Mangueira. Um grupo de jovens decidiu seguir os passos dos estudantes brasileiros de Coimbra e no ano seguinte já desfilavam no carnaval.
Conta Zézé, um dos fundadores que no inicio eram 20 elementos. Na edição do carnaval deste ano vão desfilar 170.
O que os une é o samba. Além do carnaval fazem actuações de palco e desfiles onde arrecadam algumas verbas “para pagar as despesas porque o investimento anual é muito grande”.
O Zéze estava na sede com mais pessoas a produzirem os trajes para o carnaval deste ano. O tema é a religião e os trabalhos começaram em Outubro. A maioria dos membros da Escola são da zona da Mealhada mas há muita gente da Figueira da Foz e de Coimbra.
O desfile regressou nos últimos anos às ruas da cidade. Os sócios da Mangueira dizem que notam um ambiente mais caloroso e, Luis Moreira, da Associação de Carnaval, a entidade organizadora do evento, também concorda porque regista uma maior empatia entre o público e os membros das escolas de samba.
Este ano uma das novidades é um desfile nocturno, dia 4, segunda-feira. O Rei é o actor Vítor Hugo e a Rainha é Raquel Loureiro.
Duas notas finais. Há cerca de duas décadas que também há um desfile de crianças, o Carnaval das Criança. Este ano foi no passado Domingo, dia 24. Por outro lado, a tradição do carnaval tradicional mantém-se em algumas freguesias. Como por exemplo na Vimieira onde se costuma fazer a Serração da Velha e na Pampilhosa um Entremez de Carnaval, que tem uma expressão teatral.
A vaca ou Salazar na origem do carnaval luso-brasileiro da Mealhada faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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