É o primeiro jardim botânico em Portugal e até foi pioneiro como centro de ciência natural.
O Jardim Botânico da Ajuda é muito bonito e é um excelente refúgio em Lisboa. Como refere a sua diretora, Ana Luísa Soares, “é um privilégio porque está num cantinho da Ajuda, com uma vista linda para o rio Tejo. Estamos próximos de museus e palácios na zona de Belém e quem quiser pode subir a Calçada da Ajuda e vir descobrir o encanto deste jardim.”
A descrição de Ana Luísa Soares é fiel ao que se sente quando olhamos para o Tejo do tabuleiro mais alto do jardim. Funciona como uma varanda entre plantas exóticas dos cinco continentes.
A mais antiga é um dragoeiro que por ter quatro século precisa de amparo e todos os dias tem a visita dos pavões que acrescentam colorido ao jardim. Mais cores à nuance de tons, consoante a estação do ano.
“Em Maio e Junho temos uma alameda de jacarandás em flor que é espectacular. Há ainda o jardim dos aromas que começa a desabrochar. As flores no terreiro inferior também dão grande colorido nesta altura. No inverno também tem o seu encanto com o jardim despido de folhas.”
O tabuleiro inferior é diferente do que tem melhor vista para o Tejo e está preenchido com plantas exóticas. O inferior tem um jardim com flores ornamentais, espaços verdes com desenhos geométricos cujas linhas são quebradas com o estilo barroco da fonte das Quarenta Bicas decorada com serpentes e com vista para o Palácio da Ajuda.
No jardim há ainda a escadaria em pedra trabalhada, com esculturas e o espaço dos aromas, com plantas aromáticas e medicinais.
A área total do jardim é de três hectares e meio, tal como foi criado em 1768, no reinado de D. José e por vontade do Marquês de Pombal. Depois do tremor de terra de 1755 e com a destruição do Paço da Ribeira a corte foi chamada para o Palácio da Ajuda e até foi construída a Real Barraca. Segundo informação recolhida por Ana Luísa Soares, “o Paço Real era em madeira e a descrição da época diz que se tratava de um palácio luxuoso – foi devorado pelas chamas em 1774. O jardim servia também de recreio e lazer e dizem que o próprio mestre os incentivava a aprender botânica.
O jardim teve um papel muito mais relevante na área da ciência e da recolha de materiais em expedições científicas, por exemplo nas antigas colónias.”
Logo na sua criação o jardim funcionou como um centro cientifico com um núcleo museológico de ciência natural. Tinha o Museu de História Natural e a Casa do Risco onde desenhadores criavam ilustrações científicas. “Foi um centro pioneiro de conhecimento científico em Portugal.”
A concepção do jardim é do italiano Domingos Vandelli com formação em botânica e que tinha acabado de conceber o jardim de Pádua. Alguns anos depois o Marques de Pombal convidou DomingosVandelli para desenhar o Jardim Botânico de Coimbra com o objectivo de dar apoio à Universidade de Coimbra. “Naquela época a principal utilidade das plantas era para Medicina e Farmácia.”
O Jardim Botânico da Ajuda chegou a ter 5 mil espécies e o museu foi saqueado nas Invasões Francesas.
A tutela do jardim passou por várias entidades e pouco depois da implantação da República ficou ao serviço do Instituto Superior de Agronomia.
Das várias vezes que visitei o jardim vesti a pele de figuras históricas que por aqui passearam nestes dois séculos e meio. Agora, depois de ouvir a descrição de Ana Luísa Soares, fico muito mais fascinado com o desenhador de risco a inspirar-se no Tejo e nas plantas antes de começar o risco para uma ilustração científica.
Jardim Botânico da Ajuda: o primeiro “Centro de Ciência Viva” em Portugal faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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