A praça Marquês de Pombal na terra que viu morrer um dos homens com mais poder em Portugal é um bom exemplo de como pode ser vã a glória de mandar.
Ó glória de Mandar! Ó
Vã cobiça
Desta vaidade a que
Chamamos fama!
Lusíadas – Canto IV
Uma dúzia de anos depois de ter o título de Marques de Pombal foi aqui que morreu Sebastião José de Carvalho e Melo. Desterrado, esquecido e contava apenas com a fraternidade dos locais que também o protegiam.
Na altura a rainha D. Maria remeteu-o para o ostracismo e o todo poderoso Marquês passou os seus últimos anos de vida, de 1777 a 1872, numa casa modesta.
O edifício foi construído em 1533, com tectos baixos e de tamanho reduzido. Hoje a casa está muito feia e até destoa no enquadramento urbanístico.
Curiosamente a casa está na praça onde o marques de Pombal deixou obra que perdura até aos dias de hoje.
Mandou construir uma cadeia que foi adaptado ao Museu Marquês de Pombal. Do outro lado da praça está o celeiro onde eram colocados os cereais que vinham da quinta da Gramela.
O celeiro foi construído em 1776, duas décadas depois do grande terramoto de 1755 e a construção já recorre a técnicas anti-sísmicas. O edifício está classificado como Imóvel de Interesse Público. A portada preserva os símbolos e os trabalhos ornamentais em pedra e o interior, com salas amplas, mantém o ambiente típico de um celeiro.
Um lugar bem escolhido para dar a conhecer mais de duas mil peças de artesanato que fazem parte do Museu de Arte Popular Portuguesa. A colecção representa praticamente todo o país e é de origem particular. Nelson Lobo Rocha recolheu muitas peças junto de artesãos e ofereceu o acervo para a constituição do museu.
A Cadeia Velha de Pombal é do mesmo ano do celeiro mas, como é natural, tem uma estrutura muito diferente. A fachada é marcada por uma escadaria e granito. É aqui que funciona o Museu Marques de Pombal e as várias colecções foram também oferecidas.
O antiquário Manuel Gameiro recolheu durante 25 anos muita informação e documentação que permitiu a criação de um museu monográfico.
Além da árvore genealógica do Marquês encontramos muitos documentos sobre a sua vida privada e também alguns marcos legislativos. Inevitável é o terramoto de 1755 e a Baixa Pombalina de Lisboa. O museu tem ainda em exposição várias obras de arte e peças que reconstituem a vida da aristocracia naquela época.
Uma das peças que mais chama atenção é o túmulo em madeira onde estiveram os restos mortais do Marquês de Pombal, durante mais de 70 anos, até serem trasladados para a igreja das Mercês em Lisboa.
Outra peça enigmática é uma pedra quadrangular e grande. Na face superior tem uma concavidade redonda toda polida. Quando visitei o Museu já tinha sido alertado por Gabriela Marques, do Turismo de Pombal, para esta peça e foi mais fácil perceber a sua função. É um dos moldes da Real Fábrica de Chapéus. Usavam pele de coelho e lebre que depois de triturada e espalmada era prensada no molde de pedra.
A Real Fábrica de Chapéus funcionava na Quinta da Gramela, propriedade que o Marquês herdou e a iniciativa foi do seu governo que apostava na manufactura. Por outro lado, a produção nacional garantia a procura e impedia a importação de chapéus.
Produzia chapéus finos e funcionava também como escola de formação profissional. Os aprendizes frequentavam a fábrica durante cinco anos, eram sujeitos a um exame e só depois podiam abrir as suas industrias. Parte da actividade foi expandida para a região do Porto.
Regressemos à praça Marques de Pombal porque também merece destaque a igreja Matriz de S. Martinho. Fica mesmo ao lado da casa do Marques e a sua origem é muito anterior à época do absolutismo. Foi construída no século XIV e a última grande alteração foi após as invasões francesas porque ficou muito danificada. Foi nesta igreja que a Rainha Santa Isabel intermediou um acordo de paz entre D. Dinis e o príncipe Afonso sobre a sucessão do trono. No interior da igreja um painel de azulejos ilustra este momento.
Marquês de Pombal – a vã glória de mandar faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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