O bairro operário é uma ilha no meio do imenso universo industrial da antiga CUF. Uma ilha que preserva a memória do colosso fabril e que se procura revitalizar.
São pouco mais de três centenas de casas térreas todas alinhadas em banda. Porta ao meio e uma janela da cada lado.
As casas estão irmanadas e as que estão no mesmo passeio partilham a cor. Quase todas foram pintadas nos últimos anos. O bairro está bonito.
José Parreira é um antigo trabalhador da CUF e vive no bairro com a mulher há cerca de 50 anos. Quando chegaram a renda era de 300 escudos. Na altura era muito dinheiro mas decidiu ficar porque tinha duas crianças e no bairro existiam equipamentos sociais como a creche, escola e o posto de saúde.
As casas são da Quimigal, a empresa que sucedeu à CUF após a crise económica da década de 70 e à nacionalização de 1975. As rendas não foram entretanto aumentadas.
José Parreira diz que é muito positivo porque está reformado por invalidez e metade da reforma vai para medicamentos. Dorme com uma garrafa de oxigénio, uma consequência do trabalho como soldador, “dentro de depósitos, com calor, era o que calhava.
José Parreira estava à porta da sua casa. A mulher tinha acabado de sair e ele ficou acompanhado da gata que recusa ficar dentro de casa. Só entra para comer. Ele aprecia a companhia.
De vez em quando olha para as torres das fábricas que se vêem da sua rua, na direcção da entrada do bairro. O olhar leva-os às memórias à imagem de “milhares de pessoas a entrar naquele portão na paragem para o almoço. Era correr e voltar para o trabalho.
As fábricas estavam todas a trabalhar, havia muitos gases e as paredes das casas estavam negras.”.O bairro começou a ser construído em 1908 e depois foi ampliado chegando às 312 casas. Além das residências havia ainda os refeitórios.
São edifícios maiores que se destacam no bairro, como também as moradias dos engenheiros.O antigo cinema, devido à volumetria e à arquitectura moderna (foi construído no final da década de 40) sobressai também entre as casas térreas.
Já foi utilizado para diversos fins e agora é a Casa da Cultura. Próximo está a Torre do Relógio, cor de rosa, e vê-se praticamente de todo o bairro.
Hoje não há poluição, não há gases mas também faltam residentes. Há filas de casas com a porta fechada. No passeio, próximo de algumas portas, há vasos com flores ou paus pendurados na parede com roupa estendida ao sol. Pouco mais. “Aqui é só velhos e são poucos. Morrem e as portas fecham-se.”
Os jovens que se vêem na rua frequentam a escola profissional Bento de Jesus Caraça e há a expectativa que contribuam para o renascimento do bairro. Com o mesmo propósito estão a ser reservadas algumas casas para artistas e estudantes.
Duas notas finais. Na visita tem de estar atento à toponímia. Vai encontrar nomes de ruas como Ácido Sulfúrico, Glicerina, Óleos ou nomes de estudiosos na área da química como por exemplo Lavoisier.
Os nomes das ruas associados a produtos químicos são da primeira fase do bairro, antes de ser alargado.
O bairro está inserido num Roteiro Industrial mais vasto e um dos ponto de partida é um mural de Vhils na Rua da União, junto ao mausoléu de Alfredo da Silva, o empresário que criou o império da CUF.
A rua do Ácido Sulfúrico no Bairro da Cuf faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.