Ângelo Arribas vive na Freixiosa, no concelho de Miranda do Douro, e é uma das pessoas mais conhecidas da música tradicional mirandesa.

Toca e constrói instrumentos na sua pequena oficina, “aqui é onde passo os meus bocados. Onde faço as minhas flautas, caixas, bombos, tamboris, gaitas de foles, castanholas, paus de pauliteiro…”
site_angelo_arribas_DSCF0301A listagem revela bem como ele é um “homem dos sete instrumentos”. Um autodidata, acredita nos seus dotes e com uma enorme força de vontade para experimentar, seguir em frente.

Como sucedeu com muitas outras crianças no então ambiente rude e pobre do planalto mirandês, Ângelo aprendeu a andar nas arribas do Douro. Levava ovelhas e cabras e ficava fascinado a ouvir os pastores espanhóis a tocarem flauta e tamboril. Não tardou a dar corpo a uma vocação que Ângelo acha que já tinha nascido com ela.
site_angelo_arribas_DSCF0335“As artes saem com as pessoas. Depois, depende se a pessoa a põe em prática ou não.” Para passar o tempo, como não havia rádio ou televisão, “enquanto andava com o gado e ao ouvir a música dos pastores espanhóis” começou a improvisar instrumentos, por exemplo com palhas de centeio. “Eu passava os dias a ouvi-los e a ver como tocavam a flauta e o tamboril ao mesmo tempo.” site_angelo_arribas_DSCF0339Passado pouco tempo, com os escassos recursos que tinha ao seu dispor improvisou uma flauta e um tamboril. A flauta era de sabugueiro. O tamboril foi feito a partir de uma lata espanhola e juntou duas peles de coelho que “rapei com uma lâmina de fazer a barba. E qual foi o espanto dos meus pais quando me viram entrar em casa a tocar o tamboril e a flauta! Claro que não era uma coisa muito bem feita, era um remedeio, mas deu para aprender a tocar por esse mundo fora.”
site_angelo_arribas_tambores_DSCF0316A segunda atuação de Ângelo Arribas foi quando chegaram os saltimbancos e o convidaram para tocar pelo meio do povo. Para anunciar a atuação à noite na qual ele e a família podiam entrar sem pagar. Era a retribuição pelo serviço.
Foi o início de uma paixão que o levou a muitos lados do Mundo e que ele já perdeu a conta apesar de registar alguns países numa flauta.
site_angelo_arribas_DSCF0333Ao longo do tempo enamorou-se por outro instrumento que ouvia os gaiteiros tocar, inclusive um cunhado. O fascínio era de tal forma grande que a primeira gaita de foles que construiu foi com palhas de centeio e pele de rato. Um dia estava com algumas vacas na zona de Mogadouro e caçou um rato. Com a pele do animal e com palhas de centeio fez uma imitação de uma gaita de foles.
site_angelo_arribas_gaita_DSCF0310Já com quase 50 anos de idade decidiu construir uma gaita a sério e mandou vir um fole da Galiza. Quando “ia todo contente na praça de Miranda do Douro encontrei o padre Mourinho, (uma das referências da cultura mirandesa) o nosso chefe dos Pauliteiros e que montou o Museu da Terra de Miranda” e não gostou de ver o fole da Galiza.

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“Disse-me, tira isso daí para fora que não é nosso. Compra um cabrito, come-o e entrega a pele ao Zé Augusto em Sendim. Assim fiz e paguei cinco contos pela pele. Depois preparei a gaita de foles com a pele que ainda tenho.”

site_angelo_arribas_DSCF0342Quando finalmente cumpriu o sonho da gaita de foles Mirandesa percebeu que tinha outro futuro, incentivado por palavras do padre Mourinho. “E assim fiz. Contrui muitas gaitas. Naquela altura era só eu”.

site_angelo_arribas_gaita_DSCF0331A produção era em grande quantidade e, conforme reconhece, nem sempre a qualidade era a prioridade. Chegou a fabricar 45 gaitas em 30 dias “mas uma gaita, para ficar bem, em menos de uma semana não se faz.”
site_angelo_arribas_DSCF0303Nas contas de Ângelo Arribas, na altura em que começou a construir gaitas de foles, há pouco mais de 3 décadas, havia cinco ou seis gaiteiros. Hoje há muitos mais e ele próprio ensinou alguns. “Muitos dos que aprenderam comigo tocam melhor do que eu. Em programa não. Mas a tocar sim, o que é bom.” Sempre otimista.
site_angelo_arribas_DSCF0318Ângelo Arribas de músicas faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:

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