Um dos ícones de Trás os Montes é a Capa de Honras Mirandesa.
Não é uma peça de vestuário comum. Tem uma forte carga simbólica.

Cerimónia da exaltação das capas de honra
Cerimónia da exaltação das capas de honra

“É uma honra ser recebido com uma capa de honras e é uma honra vesti-la. A Capa de Honras honra quem a veste e quem é recebido com ela.
Honra a criança no batizado, honra os noivos no casamento, honra os defuntos e honra também as cerimónias religiosas e as festividades ao longo de todo o ano.”

António Rodrigues Mourinho
António Rodrigues Mourinho

A descrição é de António Rodrigues Mourinho, investigador em Miranda do Douro.

Na altura em que falei com ele vestia uma Capa de Honras e tinha acabado de falar numa Cerimónia de Exaltação das capas que decorreu na catedral de Miranda.

Presidente da Câmara de Miranda do Douro
Presidente da Câmara de Miranda do Douro

Muitas outras pessoas, nomeadamente autarcas portugueses e espanhóis também vestiam a capa castanha de burel e decorada com aplicações recortadas.
site_capa_honra_papa_DSCF9978Uma das personalidades que também partilha esta honra é o Papa que recebeu uma Capa de Honras no início deste ano. Sandra Nobre foi uma das costureiras que fez a capa e diz que é uma arte que exige precisão no corte – “dá muito trabalho como qualquer outra atividade e não é qualquer pessoa que faz.

Sandra Nobre
Sandra Nobre

O desenho é sem decalque. É tudo feito a olho. A minha mãe costuma dizer que desenhamos como se fosse um pintor”.
site_capa_honras_DSCF9999No concelho de Miranda do Douro há apenas duas costureiras e um alfaiate que continuam a produzir a Capa de Honras cuja origem, segundo António Mourinho, remonta aos monges beneditinos que “marcaram significativamente a economia, a cultura e a religiosidade do Baixo Douro, incluindo a Terra de Miranda que é a terra entre o Sabor e o Douro.
site_capa_honra_DSCF9995Por isso, esta capa é uma peça de vestuário extraordinária e única porque só existe na terra que foi de Leão e se conserva nos sitos principais que é parte da Sanábria, Aliste e na Terra de Miranda.”
site_capa_honra_DSCF9986Apesar da sua origem ser muito antiga só no início do século XIX aparece referenciada com a designação de Capa de Honras, “é num acórdão da Câmara Municipal, de 18 de Dezembro de 1819. É estipulado que por uma Capa de Honras bem feita à jeira custava 500 réis. Por uma Capa de Honras lisa só custava 170 réis porque esta era para gente pobre ou que a usava no campo.”
site_capa_honra_DSCF0001No passado a capa lisa, sem efeitos decorativos, foi muito usada pelos pastores e também no Inverno para proteção do frio. Na atualidade é mais para uso cerimonial –“uma capa destas é muito cara, custa mais de 600 euros”.
site_capa_honra_DSCF0030Por outro lado, também mudou a forma como é feita. Na descrição de António Rodrigues Mourinho, “no princípio seria de pardo. O burel é um tecido mais fino.
site_capa_honra_DSCF0028A lã era tecida em teares manuais e não era necessário tingir porque a maior parte do gado era de ovelhas pretas. O vestuário desta região, porque era à base de lã, era predominantemente preto e castanho escuro.”
site_capa_honra_DSCF0004Uma das consequências da mudança da matéria prima é um alívio para o corpo. Antes uma Capa de Honras pesava mais de 15 kg enquanto agora anda próximo dos 8 kg.

António Rodrigues Mourinho
António Rodrigues Mourinho

Capa de Honras e da identidade mirandesa faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo

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