Três lugares de Lisboa marcam a vida de Camões e constituem histórias incertas e interessantes.
Comecemos pelo Rossio, por uma vulgar briga para a época que meteu espadas e alguns homens que queriam mostrar a sua valentia.
Foi em 16 de Junho de 1552 e Camões, que tinha fama de quezilento, também se envolveu e atingiu um dos participantes nas chamadas “gentilezas”. Pagou caro.
Foi condenado e depois perdoado mas teve de passar oito meses no Tronco de Lisboa. Um lugar miserável segundo testemunhos da época. Para comer ou beber tinha de se pagar. O preso que não tivesse dinheiro morria de sede.
O lugar ficava no final da pequena Travessa do Tronco na Rua das Portas de Santo Antão, quase em frente ao actual Ateneu. Um painel de azulejos de Leonel Moura evoca a prisão de Camões.
O tronco marcou também o futuro do poeta porque era vulgar a tortura, com alongamentos de partes do corpo o que, segundo José Hermano Saraiva, justificará mais tarde a necessidade de uma muleta quando Camões regressou do desterro na Índia. Vem com Jau, um escravo que o acompanhará até ao final da vida na calçada de Santana.
A meio desta rua está uma lápide na fachada de um prédio de três pisos a indicar que foi ali que morou Camões. Há quem diga que não foi bem assim, era próximo mas o dono deste prédio promoveu uma excelente operação de marketing no século XIX.
Terá funcionado na altura porque, agora, a casa de Camões desperta pouco ou nenhum interesse.
Henrique Duarte trabalha há 50 anos na drogaria que fica um pouco antes, na subida para a casa de Camões e diz que muita pouca gente sabe ou se apercebe da casa onde terá nascido Camões.
A rua é bonita, tem muitas casas restauradas, igrejas, palácios mas já pouco diz para quem vive aqui há muitos anos.
Uns metros acima, através de uma travessa, damos de frente com a casa onde terá nascido Amália Rodrigues. Mas, tal como Camões são poucas as certezas.
O corpo de Camões está nos Jerónimos mas também há muitas dúvidas sobre os restos mortais. O poeta terá sido sepultado na igreja de Sant’Ana que fica no topo da rua.
Só três séculos depois o corpo foi trasladado para os Jerónimos e entretanto a igreja sofreu profundas alterações decorrentes do terramoto de 1755.
A igreja de Sant’Ana já não existe, deu lugar ao Real Instituto Bacteriológico.
Não muito longe foi construída uma outra igreja, em 1705. É a Igreja da Pena e mercê também uma visita.
Camões em Lisboa: da tortura no Tronco ao enigma de Sant’Ana faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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