Há cerca de um século um dos compositores e maestros com maior reputação internacional era o português Francisco de Lacerda.
A passagem por França e pela Suíça colocou-o como um dos principais chefes de orquestra e diretor de festivais de música.
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“No domínio da direcção de orquestra, o açoriano Francisco de Lacerda foi o primeiro português que alcançou prestígio no estrangeiro”, escreve João de Freitas Branco na História da Música Portuguesa, em 1956 e citado na Casa da Música.
Um século depois ainda há visitantes que vão de propósito ao Museu Francisco de Lacerda, na Calheta, Ilha de S. Jorge, para saciar a curiosidade sobre uma das referências da música erudita em alguns países europeus.
Francisco de Lacerda nasceu em 1869, na Ribeira Seca, no concelho da Calheta e por influência familiar muito cedo se introduziu no universo da música.
A família tinha ligações à cultura, terá sido o pai a iniciá-lo no piano e Francisco de Lacerda cedo se inseriu nos meios culturais. Tirou o curso de piano no Conservatório Nacional em Lisboa e seguiu depois como bolseiro para o Conservatório de Paris. Rapidamente evidenciou os seus dotes e chegou a substituir o mestre, Vincent D’Indy, como chefe de orquestra, iniciando uma brilhante atividade internacional.
Por razões de saúde regressou a Portugal. Esteve algum tempo na ilha de S. Jorge onde fez uma recolha da música tradicional. Esteve também em Lisboa. Tinha uma amizade profunda com Eça de Queiroz e estabeleceu contactos com outros escritores e músicos.
Dinamizou muitas tertúlias e foi um dos fundadores da Filarmónica de Lisboa. É nesta fase que se dedica a compor música em particular para canto e piano.
Virgina Reis, diretora do Museu Francisco de Lacerda, acrescenta que não é fácil executar as suas composições e, por este motivo, não fez parte das aulas dos conservatórios nas últimas décadas. No entanto já apareceram dois jovens que estão a fazer o mestrado sobre Francisco de Lacerda e que procuram interpretar algumas obras do compositor português.
As referências no meio musical apontam Francisco de Lacerda “como compositor, a sua linguagem musical, marcada por um modernismo que só encontra paralelo na obra de Luís de Freitas Branco. Se praticamente toda a obra de Lacerda assenta no Impressionismo francês fortemente influenciado por Debussy (com quem o português travou uma sólida relação de amizade), não é menos verdade que a preocupação nacionalista está patente nas composições que datam do período em que o músico viveu em Lisboa”. Francisco de Lacerda faleceu em 1934 em Lisboa.
No Museu com o seu nome na ilha de S. Jorge há vários objectos e informação. Algum acervo está em Angra do Heroísmo e esperam que dentro de dois anos esse material seja transferido para o novo museu na Calheta.
Na ilha de S. Jorge há um roteiro baseado nas cartas escritas pelo pai. Era um homem exigente e que lhe perguntou várias vezes pelo harmónio que encomendou ao filho para comprar em Paris. O harmónio acabou por ser enviado pelo filho e está na Ermida de S. Sebastião, em Fajã dos Vimes.
Ao lado desta fajã é a Fragueira onde está a casa do pai e onde Francisco de Lacerda passou muito tempo e é-lhe atribuida a frase “A Fragueira ou Paris”.
A Associação de Fajã dos Vimes construiu um caminho até à Fragueira.
Próximo da casa do pai, que está em ruínas, ainda se vê a base onde João Caetano colocava o pau com a bandeira nacional quando passava o navio do Continente que percorria o arquipélago dos Açores. Segundo conta o presidente da Associação, António Gomes, o comandante mandava colocar o navio de frente para o bico da Fragueira e dava três apitos. O pai de Francisco de Lacerda içava a bandeira e só depois o barco seguia viagem.
A bisneta de Francisco Lacerda, Filipa Lacerda, está a preparar um projecto de recuperação da casa com o objectivo de a transformar num pólo cultural. Pretende criar uma residência para artistas de música e um centro interpretativo. A música e Francisco de Lacerda são os focos do projecto que pretende ainda desenvolver um evento anual e dar a conhecer mais documentação de Francisco de Lacerda
O actual Museu tem ainda um levantamento etnográfico da ilha de S. Jorge e é complementado com uma biblioteca. Uma das iniciativas é a “caixa de livros” que levam para as freguesias para estimular a leitura.
É um projeto pioneiro nos Açores e a diretora do Museu, Virgínia Reis, diz que tem tido bons resultados. Revela que muitas pessoas continuam a ler, mesmo com idade avançada.
O futuro museu vai ter também a componente das conservas que tem ainda um grande peso na economia local. Por último, a referencia para a Filarmónica União Popular da Ribeira que foi criada pela família Lacerda. Foi a precursora das filarmónicas na ilha de S. Jorge que promovem o ensino e a prática da música alcançando uma percentagem muito grande da população.
Algumas das composições de Francisco de Lacerda:
Reouvir Francisco de Lacerda “na Fragueira ou em Paris” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui.
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