Nas várias visitas ao Cromeleque dos Almendres mantém-se o efeito de surpresa, fascínio e mistério. Também alguma graça pela forma e a disposição das pedras.
Fascínio pelas 94 pedras onduladas, em pé, na encosta da colina.
Mistério pelo significado deste monumento que deve ter sido construído 5.500 anos antes de Cristo.
Mário Carvalho é arqueólogo e através da Ebora Megalithica faz visitas guiadas ao Cromeleque dos Almendres. Ele aponta-nos algumas pistas sobre o conjunto de menires. “A sua função ainda é largamente debatida pelos arqueólogos, mas eles têm claramente orientações astronómicas, nomeadamente para os equinócios e solstícios. Não acreditamos que eles utilizassem os monumentos para controlar a transição das estações ou perceber quando estavam a chegar. Para isso não precisamos de levantar pedras. Mas acreditamos que eles celebrassem estes momentos do ano e, como tal, os monumentos tivessem uma importância grande do ponto de vista ritual e celebração em alturas de transição das estações.”
No seguimento desta leitura tem de se ter em conta um outro menir que está noutra zona da herdade dos Almendres. Acede-se por um caminho estreito, está numa zona um pouco mais elevada.
No solstício de Verão, em linha de vista do Cromeleque, aponta ao nascer do sol. “Na verdade existem outros monumentos fora que têm uma orientação. É o caso do Menir dos Almendres que tem uma orientação solsticial com o Cromeleque dos Almendres.”
O menir tem a forma de um ovo alongado, está em pé e tem um cajado gravado em baixo-relevo.
Nos menires do cromeleque também encontramos várias gravações. Algumas são grandes e consoante a luz do sol podemos ver com alguma facilidade inscrições geométricas, simbólicas, crescente lunares e báculos.
No entender de Mário Carvalho, “a arqueologia tem uma capacidade muito grande de perceber coisas físicas. As datações, o que comiam, o que vestiam…, mas é muito mais complicado nós percebermos o que as pessoas pensavam. Existe muita especulação arqueológica sobre o significado original destes símbolos. O mais fácil de interpretar é claramente o nascente lunar. O círculo é interpretado como o sol. O báculo é o cajado do pastor, provavelmente seria o símbolo de poder, de domínio, do homem sobre o animal. É, aliás, uma ideia muito representativa do período do neolítico.”
No domínio do simbólico também é polémica a interpretação se os menires, como por exemplo os de Almendres, podem ser interpretados como um símbolo fálico a fecundar a terra. “Isso é uma questão ainda muito debatida entre especialistas. Se é fálico ou antropomórfico. Uns defendem mais que a forma do menir é a forma da figura humana e não da anatomia masculina, mas, em todo o caso, essa é uma pergunta que ainda causa muita celeuma no mundo académico”
Independentemente do seu simbolismo sentimos a necessidade de tocar com delicadeza na o menir que tem 3.5 metros de altura. Nos cromeleques também podemos aproximar-nos das 94 pedras. Têm tamanhos variados e do alto da colina podemos ver como o conjunto traça uma linha em forma de elipse.
O arqueólogo Mário Carvalho não atribui grande relevância a esta forma, “existem recintos pela Europa que são ovais, quadrados… é possível que seja um aspeto mais estético do que funcional. É possível dar uma orientação astronómica a qualquer forma geométrica que nós queiramos. Na Península Ibérica são elipses porque a parte final, a nascente, é aberta.”
O acesso ao cromeleque é por uma estrada de terra batida e quando os visitantes deparam com o cromeleque as reações são variadas, no testemunho de Mário Carvalho. “Há um pouco de tudo. Desde pessoas que têm todo o tipo de crenças, espirituais, religiosas, extraterrestre… temos esse tipo de publico e depois temos as pessoas que vão mais com uma perspetiva científica e académica. Querem saber os dados arqueológicos sobre o sitio. Mas existe uma grande diversidade de tipologia de visitantes e de motivações da visita.”
Uma outra reação tem a ver com a dimensão do cromeleque. “É o maior da Península Ibérica e corresponde às caraterísticas de implantação de todos os outros mais pequenos. Está não no topo de uma colina mas na descida de uma lomba, orientado a nascente, com uma orientação central para o equinócio. Corresponde a todos os parâmetros dos outros, a única diferença é que é muito maior.”
Os menires foram descobertos em meados do século passado e estavam deitados. Foi em 1964 quando Henrique Leonor Pina fazia o levantamento da Carta Geológica de Portugal.
Este investigador fez outras descobertas do património megalítico na região de Évora e conta nesta interessante entrevista o modo como se relacionava com as populações locais que lhe davam a conhecer pistas de locais com eventual interesse arqueológico.
Através dos trabalhos arqueológicos realizados alguns anos depois, percebeu-se como os menires estavam alinhados, em forma de elipse e foram colocados nessa disposição ao longo da colina voltados a nascente.
O acesso ao Cromeleque e ao Menir de Almendres é feito a partir de Nossa Senhora de Guadalupe onde foi construído um interessante Centro Interpretativo. Interessante pela opção arquitetónica, em cortiça, e porque tem um conjunto de informação essencial para quem visita os dois monumentos megalíticos. A médio prazo está previsto uma maior dinamização deste espaço reforçando o destaque que o Cromeleque já alcançou ao ser um dos monumentos megalíticos mais visitados em Portugal.
O solstício de Verão no Cromeleque dos Almendres faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
Roteiro pelo concelho de Évora
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