O nosso Mar Morto é hoje uma fonte de sal de excelente qualidade. As Salinas de Rio Maior são também uma paisagem única no interior so país.
A imagem de ter existido um mar morto próximo de Rio Maior, no sopé da serra dos Candeeiros, fui pedir emprestada a José Lourenço que acolhe os visitantes nas salinas. Ele está numa das muitas casas de madeira onde era guardado o sal que resulta do tal mar morto e , segundo a sua explicação, “há milhões de anos existiu aqui um mar.
Esta zona era um vale e o mar ficou aqui sediado como um lago. Foi secando gradualmente criando várias camadas de sal. Com as movimentações tectónicas o sal foi ficando subterrâneo e prensado transformando-se numa pedra de sal que é o sal-gema”. Como a zona é muito calcária a água da chuva infiltra-se nos solos, cria rios subterrâneos que vão desgastando a pedra de sal e salga a água. “É o nosso milagre da água, sete vezes mais salgada que a água do mar”.
O que explica que seja em Portugal a única salina no interior, dista a cerca de 30km do mar, e tem um historial que já vai em oito séculos.
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A água é tirada de um poço com cerca de nove metros de profundidade e é colocada em cerca de 470 talhos. “A maioria dos talhos pertence à Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal de Rio Maior. Há ainda pequenos produtores que fazem a exploração e comercialização do sal.”
Os talhos são partições, separadas por pequenas divisórias em pedra. Têm formas irregulares e são pouco profundos. A água leva quase uma semana a secar em cada talho. O conjunto é ainda extenso e forma um rendilhado no vale que vai ficando branco a partir da Primavera devido à evaporação.
Os primeiros sinais são a flor de sal. “As salinas costumam iniciar a produção em meados de Maio e terminam habitualmente em Outubro. É a época mais interessante de visitar. No Inverno há também os presépios de sal feitos com toneladas de sal.”
O lugar atrai muitos visitantes e em algumas alturas conseguimos ver homens a andar nos carreiros, ao lado dos talhos, a retirar a flor de sal com uma rede. Há um corredor central que permite passear e alguns visitantes aventuram-se até ao poço que está tapado.
A agitação é maior nas ruas estreitas de pedra e nas dezenas de pequenas casas de madeira que, apesar de manterem a traça e a tranca de madeira, agora servem para outros fins.
Em algumas vende-se o sal que José Lourenço evidencia as qualidades: “dizem os entendidos que o nosso sal é o mais saudável que se pode consumir. A água tem um processo de filtragem natural, através do solo. O sal-gema é desgastado pela água e não tem qualquer processo químico. As impurezas no processo de evaporação ficam no fundo e o sal flutua. Depois temos também a flor de sal que é muito utilizado em saladas gourmet e que dizem que é o sal mais requintado.””
A maior parte do sal produzido em Rio Maior é para exportação e a Alemanha é um dos maiores importadores. A produção era feita habitualmente de forma sazonal por agricultores e o conhecimento foi transmitido de geração em geração.
O “Mar Morto” de Rio Maior faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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