“Nenhuma outra praia em Portugal possui as condições da Figueira da Foz para tornar agradável a estação dos banhos.
site_f_foz_5335Batida do grande mar, tendo à direita a bonançosa baía de Buarcos e à esquerda os rochedos em que assenta o castelo de Santa Catarina, que defende a foz do Mondego, a vila da Figueira oferece aos banhistas incomparáveis condições”.
site_f_foz_5360A opinião é de Ramalho Ortigão, escrita há quase 150 anos no Guia do Banhista, As Praias de Portugal. Mas, não há bela sem senão e, para o escritor natural do Porto, o desapontamento era a praia ser frequentada por gente da Universidade de Coimbra. site_f_foz_DSCF6409Mais grave, “os estudantes que frequentam a Figueira são ordinariamente os piores, os mais broncos, os que não saem de Coimbra, aqueles em quem os efeitos do vicio universitário se desenha mais profundamente. Estes senhores, com o seu afectado desdém, com o seu mau ar de críticos, com o seu espirito de troça, e, os senhores professores com a sua sobranceria catedrática, constituem o grande senão da sociedade da Figueira, sobre a qual distinguem a sua cor especial”.
site_f_foz_5316Depois de percorrer o imenso areal da marginal até á praia encontrei João Pelicano que há quatro anos aluga toldos aos veraneantes. Muitos são de Coimbra e da Universidade. João tem uma opinião diferente de Ramalho Ortigão.

João Pelicano
João Pelicano

“Sinceramente discordo um pouco. Cada vez mais os clientes são mais abertos. Até connosco, respeitam o nosso trabalho, falam sempre connosco. Acho que é bom. Nos quatro anos que trabalho aqui tenho uma ideia bastante positiva deles. “ Incluindo os estudantes, “Já são mais sossegados, não há problema nenhum.”
site_f_foz_DSCF6393Dionísio Andrade nasceu numa povoação próxima da Figueira da Foz há cerca de 70 anos. Ainda se lembra de ir à Figueira de propósito para ver os estudantes da Universidade de Coimbra. Vinham muitos estudantes. Eles tinham uma badalada danada. Vinham em cima do comboio. Iam aos cafés e tiravam as chávenas e as colheres e metiam nas capas…Valia a pena vir o pessoal de Coimbra até à Figueira da Foz, os estudantes.”

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Hoje o ambiente da Figueira da Foz no Verão é mais cosmopolita, há gente de muitas proveniências. A sociedade não está tão segmentada como há algumas décadas atrás.
site_f_foz1_hdrMuito menos em comparação com o tempo de Ramalho Ortigão: “A população dos banhistas na Figueira consta de duas camadas diferentes. No fim de Setembro retiram-se as famílias de Coimbra e algumas de Lisboa, e sucedem-se as dos lavradores da Beira, que vêm para esta praia depois das colheitas, repousar dos trabalhos do campo.”
site_buarcos_hdrHá cerca de 60 anos atrás ainda era um pouco assim, “não era bem Figueira, era Buarcos. Alguns também iam para Gala, uma aldeia pequena ao sul da Fogueira da Foz, na margem sul do Rio Mondego. No entanto, a maioria ficava na Figueira e em Buarcos”, testemunha Dionísio Andrade.
site_f_foz_5324Hoje continuam a frequentar as praias, mas menos. “Em Setembro costumam vir, mas já não é com o mesmo impacto como era há alguns anos atrás. Chegam algumas famílias, mas já não no mesmo número”, refere João Pelicano.
site_f_foz_5334A Figueira da Foz foi qualificada como a Rainha das Praias na zona Centro de Portugal. Está protegida dos ventos do Norte pela Serra da Boa Viagem e tem bons acessos rodoviários e ferroviários. Nada comparado com as 6h que Ramalho Ortigão demorou na diligência que partia de Coimbra, duas vezes por dia e cobrava “1$000 réis por cada lugar”.
site_f_foz_5383Hoje distingue-se também pela extensão do areal com passadiços de madeira que dão, de forma mais notória, a noção da distância da marginal até à beira mar. Uma caminhada que serve para cansar ou contar os passos, como diz João Pelicano que recebe os veraneantes à beira-mar.
site_f_foz_DSCF6379Ao longo dos anos o areal tem aumentado. Há banhistas que já não têm paciência para andar tanto tempo até chegar à água. A extensão é enorme e alguns preferem ir para o Cabedelo, que é uma praia mais pequena, ou para Buarcos.
site_cabedelo_DSCF6531No ano passado falava-se em 900 metros. Hoje, alguns clientes vêm a contar e já chegou aos 800 e pouco. Penso que este ano o areal recuou mas foi pouco”
site_f_foz_5345Há 60 anos Dionísio Andrade também se recorda do areal, mas também das fortes marés. A praia da Figueira era enorme. A gente cansava-se de chegar à beira da água. Mas também havia alturas, e eu lembro-me disso desde miúdo, que o mar batia na torre do relógio que está junto à marginal. Não era a onda a partir lá mas era pedaços da onda a ir bater no paredão.”
site_f_foz_5366O relógio é um dos símbolos da Figueira da Foz como também o forte que fica ao lado.
Escondida atrás dos novos edifícios da marginal fica a Figueira mais antiga ou junto à estação dos caminhos de ferro.
site_f_foz_5415A sociedade da Figueira da Foz em época de veraneio sempre foi associada a alguma elite e, citando uma vez mais Ramalho Ortigão, “a soirée é uma das grandes preocupações desta praia e não será por falta de contradanças que os banhistas deixarão de se regozijar neste sitio”.
site_f_foz_5412Ramalho Ortigão, na azia que tinha pela Universidade de Coimbra, onde foi tirar o curso de Direito mas não concluiu os estudos, sublinha ainda que, quando visitou a Figueira da Foz era “proibido o ingresso dos burros no interior da vila, o que não obsta a que lá entrem muitos disfarçados.”
site_f_foz_DSCF6401Figueira da Foz podia ser a melhor “estação dos banhos” em Portugal faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:<img class=”alignnone size-full wp-image-17338″ src=”https://whotrips.files.wordpress.com/2018/03/banner_montepio2.jpg” alt=”Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo”

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