O miradouro na Penha das Torres é deslumbrante e tem o simbolismo de estarmos no ponto mais oriental de Portugal. Junto a Paradela, no planalto transmontano a 16km de Miranda do Douro.
É uma pequena aldeia que já teve muito trabalho nas minas de estanho, depois na pastorícia e na agricultura, mas hoje tem muito pouca gente. Menos de 200 habitantes.
Três deles encontrei-os sentados na paragem da camioneta. Eram idosos e dois ainda mantinham o hábito de andarem com um cajado.
Por brincadeira é dito que eles são os primeiros em Portugal a ver o sol, mas a experiência de Lázaro Cordeiro revelou-me que nem sempre se vê primeiro o sol ao olharmos para a direção onde ele nasce. “Para ver o primeiro sol da manhã, não olhamos para lá, para onde nasce o sol. Temos de olhar para trás, para a serra de Alta que é onde se vê primeiro o sol. Ele vem dali mas bate primeiro naquela terra do que chega aqui.”
O mais idoso é Roberto Pires. De chapéu, franzino, mas pelo timbre da voz expressa a força de quem andou desde criança na zona agreste das arribas do Douro. Onde os espanhóis contruíram a barragem do Castro em 1953. “Caminhei por ali com o gado muito tempo. Até andei ao pé da água da barragem, depois da barragem feita. Quando foi construída andava na escola.” Nesta parte é acompanhado pelo vizinho, “há 70 anos que estou aqui e já a barragem era velha.”
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A barragem vê-se do miradouro da Penha das Torres. Tem uma vista soberba e não fica longe da aldeia. Só uma parte do caminho tem de ser feito a pé. Diz quem conhece todos os lugares que o “Douro é fundo. Você não chega lá a andar. Não se conhecendo o caminho não se chega lá.”
Aconselhado a ficar pelo alto da montanha, subi ao alto de uma escarpa com dezenas de metros de altura e contemplamos uma vista única. (Está prevista a construção de uma plataforma para servir de miradouro).
O Douro corre apertado num vale estreito e é parado pela barragem. Um monstro de cimento que conjuga forças com um morro circular que está ao lado. Aqui vêm-se vários tipos de prédios e uma igreja que acompanham uma estrada que serpenteia a encosta. As casas estão abandonadas.
Parece ser uma fatalidade com estas construções. (Sucede o mesmo próximo da barragem de Picote, no lado português onde estão abandonadas as casas do “Moderno Escondido”, obra notável da arquitetura moderna portuguesa. As casas serviram de residência ao pessoal mais qualificado quando da construção da barragem.)
Depois de passar a comporta o Douro entra em Portugal.
As boas vindas são dadas com um vale estreito, selvagem, aparentemente inacessível devido ao declive. “É penedos por ali abaixo. Montes e carrascos” Um dos mais idosos explica-me o que o carrasco, “ é uma planta cuja folha pica. Lá para baixo, como chamam? As azinheiras. O carrasco é da família da azinheira só que a localização é a monte.”
Os carrascos e uma densa vegetação rasteira partilham as encostas com rochas graníticas. Este é também o território de algumas aves de rapina e algumas quase em extinção como a Águia de Bonelli.
Praticamente não há vestígios de intervenção humana. Apenas no local onde deixamos o carro há umas mesas de cimento e de pedra e uma estrutura para fazer lume para quem quer fazer um picnic.
Paradela e o miradouro Penha das Torres fazem parte do concelho de Miranda do Douro e pertencem ao Parque Natural do Douro Internacional
Paradela – miradouro e o ponto mais oriental de Portugal faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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