Santa Maria é um caso especial nos Açores. Já foi ilha duas vezes e apresenta, por isso, particualridades únicas na história natural. Mas isso não explica tudo. É preciso muita vocação e prazer de descobrir para o fascínio que a ilha despertou em Dalberto Pombo.
Foi um dos maiores entusiastas naturalistas portugueses no século XX. No isolamento de Santa Maria ultrapassou oceanos, pesquisou por correspondência e inventou instrumentos que permitiram importantes descobertas nas ciências naturais.
A sua vida e um fabuloso espólio podemos descobri-lo no Centro de Interpretação Ambiental Dalberto Pombo na Vila do Porto. O Centro é da responsabilidade do Parque Natural de Santa Maria.
A sua diretora, Rita Gago da Câmara, adianta-nos traços biográficos de Dalberto Pombo: “foi um naturalista que residiu na ilha de Santa Maria quase toda a sua vida. Ele não era mariense. Nasceu no concelho da Guarda, em Almofala. Foi para Santa Maria por questões profissionais, apaixonou-se por uma mariense e ficou na ilha o resto da sua vida.”
Desde muito cedo que ficou seduzido pelas particularidades de Santa Maria. “Era um curioso nato e começou a observar e coletar aquilo que o rodeava. Ele era um interessado em ornitologia, ecologia marinha, geologia, vulcanologia, flora…
Aquilo que ele reuniu ao longo da sua vida é um espólio invejável e suficiente para encher o Centro de Interpretação Ambiental e ainda temos espólio armazenado, por tratar e que ainda não está exposto.”
No centro podemos ainda ver correspondência e instrumentos que improvisou para recolha e envio de amostras para centros de ciência. “Esta curiosidade ultrapassou a ilha de Santa Maria. Começou a contactar várias universidades. Dos Açores e fora da Região para tentar saber mais sobre o património natural da ilha.
Ele recolhia insetos e enviava para as universidades para tentar saber se já tinham sido identificados pela Ciência e que animal era.” Deu a conhecer cerca de uma dezena de espécies e a cinco foram atribuídas a referência Pomboi, em sua homenagem.
Conta a neta de Dalberto Pombo que ele incentivava os filhos a acompanharem-no nos passeios para recolherem exemplares, por exemplo, de algumas borboletas. Algumas, muito bonitas, estão em exposição no Centro de Interpretação Ambiental.
Dalberto Pombo tinha o Curso Complementar dos Liceus, mas, como autodidata, reuniu muita informação, correspondia-se com investigadores que quando visitavam Santa Maria perguntavam por Mr. Pombo. Alguns eram norte-americanos, do Departamento de Biologia da Universidade da Florida.
“Teve um trabalho assinalável no conhecimento da rota das tartarugas marinhas, as caretta caretta. Parte da vida juvenil destas tartarugas é passada em alto mar, não dão à costa. Dalberto Pombo via-as junto à ilha e não percebia o que estavam a fazer nesta zona. Então, a partir de algum estudo individual, percebeu como se marcavam as tartarugas e mandou fazer em Santa Maria placas de metal.
Com um alicate, mais ou menos convencional, começou a colocar marcas nas tartarugas e pouco tempo depois estava a ser contacto pela Universidade da Flórida para colaborador com a instituição. Mandaram as placas e equipamento para que ele fizesse a marcação das tartarugas. Foi graças ao trabalho desenvolvido por ele que nos anos 70 se conseguiu compreender toda a rota migratória das tartarugas no Atlântico.”
Dalberto era também o Chefe Pombo. Além de investigador também promovia na ilha de Santa Maria a ecologia e as ciências da natureza. Concretizou o Centro de Jovens Naturalistas. Mais tarde impulsionou um agrupamento de escuteiros para promover passeios, o contato com a natureza e a divulgação de trabalhos científicos.
Muitas vezes pedia aos amigos fora da ilha para lhe enviarem material didático e outras vezes era ele que desenhava. Alguns destes postais com ilustrações de animais podemos encontrar numa gaveta do armário do seu gabinete que está no Centro.
Foi o próprio Dalberto Pombo e a família que cederam o espólio, em Julho de 2007, alguns meses antes da sua morte. O Centro abriu dois anos depois. Está na rua principal do centro histórico de Vila do Porto e em 2016 foi acrescentado com a Casa dos Fósseis que está mesmo ao lado.
“É completamente dedicada ao estudo do fósseis, paleontologia, considerando a particularidade da ilha de Santa Maria no contexto da Região. A exposição foi preparada pela Universidade dos Açores. Pela equipa do Professor Sérgio Paulo Ávila, um biólogo especializado em paleontologia e estuda os fósseis de Santa Maria há vários anos e foi ele quem preparou os conteúdos da exposição.”
A Casa dos Fósseis tem muitos pontos de interesse e recorre a linguagens para um público muito vasto. “É um centro interativo, com muita tecnologia e que explica de modo detalhado como se formam os fósseis, a história da ilha de Santa Maria, onde estão as jazidas fósseis de Santa Maria e o que cada uma tem de particular. Tem também uma área dedicada aos mais novos para que eles também possam ser paleontólogos e procurarem um fóssil no meio das areias fósseis.”
A Casa dos Fósseis tem uma notável coleção de exemplares ilustra a riqueza natural da ilha cujo património Dalberto Pombo foi um dos pioneiros no seu estudo e preservação.
Dalberto Pombo um naturalista especial numa ilha única faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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