A Ria de Aveiro tem um património fabuloso. A foz do rio Vouga alarga-se por múltiplos canais ao longo da costa numa extensão de quase 50 Km de Ovar até Mira. A riqueza do património natural é significativa, mas, talvez, a mais singular é a grandiosidade do património cultural. Um dos ícones é o moliceiro.

As terras arenosas obrigaram os agricultores a andar de barco na apanha do moliço para fertilizar as terras. A subsistência e a procura de um salário levou-os até ao mar. Em tempo de maiores privações, a viagem de barco foi mais longe, até ao gélido Atlântico Norte, para a pesca do bacalhau.

Deste modo, a água está sempre presente na cultura destas comunidades como também os barcos tradicionais.
O mais conhecido é o moliceiro, mas não foram menos relevantes o saleiro mercantel e a bateira.
Podem ser vistos no Museu Marítimo de Ílhavo ou em alguns locais da zona da Ria. Por exemplo, nos canais urbanos de Aveiro é hábito navegarem uma bateira, seis mercantéis e 20 moliceiros.

Estes três tipos de embarcação tradicional, segundo o mestre Marco Neves, tiveram forte influência nórdica e são todos em madeira. “O maior de todos é o saleiro mercantel. Tem esta designação porque era utilizado para transportar o sal das marinhas para os armazéns da cidade.
Mercantel também porque servia para transportar mercadorias das fábricas para os povos em torno da cidade de Aveiro.”
O mais conhecido e emblemático é o moliceiro. É muito colorido e caracteriza-se pelos desenhos satíricos ou de critica social.
“Era o barco utilizado sobretudo pelos agricultores para apanha do moliço. É nestas embarcações que se encontra expresso o folclore e a liberdade de expressão através de painéis.”  As pinturas variam muito, habitualmente são muito coloridas, com tons vivos e “em particular nos tempos da ditadura, foram uma forma de expressão livre e de crítica social”.
Hoje, acrescenta Marco Neves, “o tom já é diferente e em muitos casos é de brejeirice.”

A maior parte dos passeios de barco na Ria de Aveiro são neste tipo de embarcação.  É um ícone que ganhou dimensão internacional.
Cada moliceira leva 20 a 22 passageiros. Os barcos não têm quilha, são planos e com motor fora de bordo. Antes a força motriz era diferente “à vela ou com varas de 5 a 7 metros de comprimento ou em sirgas.”
Neste último caso, seguindo a de Joel, guia num dos moliceiros, “os  homens saltavam da embarcação para o exterior dos canais, quando eram mais estreitos, e puxavam os barcos com cordas ou cabos.”

As bateiras são utilizadas na pesca e “encontram-se em toda a extensão da ria. São muito diferentes umas das outras. Existem mais de 20 tipos de bateiras e são construidas de acordo com a arte a que se destinam. Há bateiras caçadeiras, ervedeiras, chichorros…”
Na Torreira é onde se podem encontrar em maior número e com uma grande diversidade de cores.

Apesar do sucesso dos barcos tradicionais no transporte de turistas em Aveiro, em particular moliceiros, está em risco o futuro deste tipo de embarcações, pelo menos garantindo a sua originalidade. Como salienta Marco Neves “existem três construtores tradicionais que são considerados mestres. Têm todos mais de 60 anos de idade e é uma interrogação o futuro da construção deste tipo de barcos.”

Dois construtores são de Pardilhó. O outro é na praia de Monte Branco, na Torreira. O Mestre José Rito constrói moliceiros e bateiras no Museu-Estaleiro da Praia do Monte Branco, uma iniciativa conjunta com a Câmara de Murtosa.
Barcos tradicionais da Ria Aveiro e as pinturas atrevidas dos moliceiros faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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