O Museu do Trabalho Michel Giacometti em Setúbal está numa antiga fábrica de conservas que preserva a traça original e muitos instrumentos de produção. Narra histórias de vida complementadas com a uma mercearia antiga e instrumentos agrícolas que estiveram na origem do museu.

Em Setúbal foi intenso o movimento operário, em particular na fase da forte industrialização do distrito. Uma das atividades que marcou a cidade foi a indústria conserveira que em Setúbal começou em 1885. Um século depois encerrou a última conserveira.

A fábrica Perienes chegou a ser uma das maiores conserveiras a nível nacional e o edifício de cinco andares foi adaptado, em 1995, pelo município de Setúbal para o Museu do Trabalho Michel Giacometti.

Algumas das instalações ainda são as originais.
José Luis Catalão, diretor do museu destaca, por exemplo, “parte da nave industrial está integral. Inclusive tem peças que eram da própria fábrica. As mesas de azeitar.. a chaminé, o depósito da água, faziam parte da fábrica quando estava a funcionar.”

Ao circularmos entre as longas e frias mesas de azeitar e instrumentos para o enlatamento do peixe, entramos num universo único que ganha uma dimensão humana com o testemunho das operárias conserveiras recolhido pelo museu que “desenvolveu nos últimos anos um centro de memórias.”

Os depoimentos, em particular das operárias, “foram inspiradores porque aparecem nos expositores os seus testemunhos falando sobre o que era a sua atividade, o que sentiam ao trabalhar na indústria conserveira e até sobre a sua vida privada.
Há uma narração de uma mulher que olhou para cima viu um homem que veio a ser o seu marido. Apaixonaram-se e acabaram por casar.”

Algumas destas memórias são vividas pelas operárias, “muitas destas mulheres que ainda estão vivas vêm ao museu, por vezes com os familiares, e reconhecem que aqui estão a reviver a sua vida. O que foi ao longo de vários anos o seu trabalho na indústria conserveira. É interessante ouvir algumas dizer: ah, eu voltava outra vez a trabalhar na fábrica!.”

Não se pense que era uma vida fácil.
“As condições eram muito duras mas, ao mesmo tempo, era uma forma de liberdade. Podiam vir trabalhar na fábrica e tinham algum dinheiro. Eram elas que o ganhavam. Sem dúvida que era muito duro. Sem horário, sem condições de trabalho, sem segurança no trabalho. Era muito complicado. Os familiares vêm aqui muitas vezes à procura de perceber o quanto era difícil a vida das suas mães, avós, tias… Aqui ficam a conhecer um pouco essa vivência.”

Um outro núcleo museológico que fascina muitos visitantes é a mercearia Liberdade.
Trata-se de um espaço que nos transporta para o detalhe de uma antiga mercearia.
Com os armários originais, o balcão com a pedra de mármore, a decoração da madeira, os instrumentos de peso e medição, a caixa registadora, marcas de alimentos e bebidas e também os registos da venda a fiado.

A mercearia é “do final do século XIX, princípio do século XX. A mercearia do senhor José Maria e da Dona Júlia era uma mercearia conceituada, na Avenida da Liberdade, até pela sua localização. Mais tarde foi uma loja para turistas, com venda de produtos regionais e vinhos.”
A localização da mercearia – no piso superior temos uma visão de conjunto – ,a grande quantidade de objetos e a sua disposição seduzem os visitantes.

“A reação é muito interessante. Para aqueles que viveram as mercearias é o voltar a algumas fases da sua vida porque vão encontrar a faca do bacalhau, o pirolito, as medidas para os diferentes produtos que se vendiam. Para os mais jovens nós procuramos criar uma ligação através das atividades do serviço educativo. Para que eles percebam que nem sempre foi chegar ao supermercado e tirar os produtos da prateleira. Eles tinham de ser pesados e embalados no momento. É importante que eles percebam essa história.”

O terceiro núcleo do museu é constituído por uma grande variedade de alfaias agrícolas e está na origem do espaço museológico.
São vários instrumentos recolhidos pelos alunos do Serviço Cívico Estudantil em 1975.


A coleção que é dos estudantes do Serviço Cívico Estudantil e é recolhida ao longo do território nacional.” A coleção não é do Michel Giacometti e não tem qualquer instrumento musical. Foi dado o nome do etnomusicólogo à coleção como forma de homenagem.

José Luis Catalão, diretor do Museu do Trabalho Michel Giacometti

Esta coleção etnográfica esteve guardada durante alguns anos e foi um dos motivos porque o município adquiriu a fábrica Perienes, em 1991.

O museu desenvolve ainda outras atividades muito associadas a profissões e atividades urbanas e está localizado num antigo bairro de pescadores e salineiros. Tem um dos melhores e mais aprazíveis miradouros de Setúbal. Também se destaca facilmente no meio do casario devido à altura da chaminé.

As histórias de vida no Museu do Trabalho Michel Giacometti faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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