Hoje assinalamos o Dia Mundial das Bibliotecas com uma visita à Biblioteca Municipal de Vila Velha de Ródão. São vários os motivos da escolha. Um deles é vermos um excerto de um poema escrito num mural de musgo. Virado para o rio Tejo.

A nossa escolha recaiu na Biblioteca Municipal de Vila Velha de Ródão, mas na verdade, justificava-se mais a expressão de “bioteca”, que nos é explicada por Graça Batista: as bibliotecas têm também “de ligar as pessoas à vida e tem que se ligar à vida das pessoas. Essa dimensão da vida é boa para nos relacionarmos. Porque todos são pessoas, antes de serem leitores.”

Graça Batista fez esta referência depois de citar um caso concreto onde, como bibliotecária, exercia uma função mais terapêutica. Durante o condicionamento teve regularmente conversas ao telefone com membros de um grupo de leitura. “Antes das sessões presenciais eu tinha distribuído o livro que estávamos a ler. Fez-se chegar uma seleção de contos de Decameron (Giovanni Boccaccio). As pessoas leram em casa e eu falava com cada uma ao telefone. Não falámos apenas sobre os contos.”

Pelo que já se percebe, uma das caraterísticas da bibliotecária é ultrapassar obstáculos e o silêncio da biblioteca esconde um permanente frenesim. “A biblioteca abriu em 2008, em 2009 começámos o projeto Vidas e Memórias de uma Comunidade em 2012 começámos a iniciativa Poesia, Um Dia e em 2013 fundámos o primeiro clube da nossa biblioteca, Clube de Leitura de Autores Clássicos, porque sentimos que devíamos voltar a ler esses textos.”

Segundo Graça Batista, na natureza da biblioteca está uma grande diversidade de iniciativas e um dos objetivos está bem definido. “O que fazemos é procurar bons pretextos para as pessoas se relacionarem com o conhecimento. Pode ser por via do livro e nós procuramos que seja muitas vezes assim através do nossos clubes de leitura”.

Na biblioteca encontramos as habituais estantes com livros, mas também vários espaços adaptados a diferentes tipos de leitores. Como também vários suportes que fortalecem a ligação com a leitura.

Uma das mais surpreendentes é na varanda com vista para o rio Tejo. Um mural de musgo que é regado para se manter vivo.
As palavras de musgo são um excerto do poema Paisagem de Jaime Rocha que é também o diretor literário do Poesia, Um Dia.

É um encontro anual de poesia que se realiza em setembro há quase uma década.
No ano passado, devido ao condicionamento foram à procura de leitores para os poemas escritos nesta iniciativa. Convidaram fotógrafos, criaram leituras visuais dos poemas que foram organizadas em coleções de postais e posters – “os lugares da Poesia” – e os visitantes podem levar alguns exemplares.

Através do site do município descobrimos outro projeto desenvolvido pela biblioteca José Baptista Martins. O registo do património imaterial do concelho através do projeto Vidas e Memórias de uma Comunidade. É mais um exemplo da “bioteca”.
“Este foi um dos projetos que achamos que era importante desenvolver. As bibliotecas são fortes instrumentos de desenvolvimento de um território. É assim que entendemos. Mas para agir como instrumento temos de agir com as comunidades que estão nesse território. Não para, mas com.”


O projeto foi desenvolvido com a própria comunidade a testemunhar olhares, contos, experiências pessoais e o cancioneiro local. Muito do registo é multimédia. Foram também recolhidas fotografias antigas e editadas em livro. O resultado final foi a construção de um acervo único, a comunidade gostou de “se dar a conhecer e ganhamos boas relações das pessoas com a biblioteca.   Os livros editados foram também uma boa forma de retomarem o contato com o livro.”

A envolvente da “bioteca” tem agora outras vertente. Uma é convidar algumas pessoas a escreverem livros sobre os seus saberes e memórias e o manuscrito fica na biblioteca. Uma versão digital é disponibilizada no site do projeto Vidas e Memórias de Comunidade. Outra atividade que está a ser realizada é “repescar” palavras que entraram no esquecimento. Um exercicio longo porque só com a letra “A” já preencheram um caderno que irá dar lugar ao livro Pequenas Histórias das Palavras.

Bibliotecária Graça Batista

Regar palavras de musgo na incansável biblioteca de Vila Velha de Ródão faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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