A praia fluvial da Lapa, no concelho de Sardoal, é um recanto que nos surpreende pela beleza natural. Tem ainda uma pequena cascata e uma capela que todos os anos juntava fiéis numa romaria. Além da lenda de que os bebés nasciam aqui.

O curso da ribeira de Arecês é travado num açude antes de se despenhar numa cascata. Estamos num lugar isolado, num vale, com muitas árvores e, fora do rebuliço do Verão, a queda de água é o único som que se ouve.

Por vezes acompanhado do vento que agita as folhas de eucaliptos gigantes.Com a praia fluvial e o ambiente natural, não admira que o lugar muito procurado nos tempos de calor, “para piqueniques e lazer. Entretanto, a praia é acantonada e fica cheia de água.”

Luís Baptista vive na aldeia vizinha da área de lazer da Lapa, em Palhota, e conta que muito do tempo de férias dos netos é passado na praia fluvial.

A área de lazer tem estruturas de apoio, um pequeno areal e uma zona com relva com sombras de eucaliptos e salgueiros.

Dois dos chorões, próximo da ribeira, acrescentam encanto ao espelho de água que é um corredor de várias dezenas de metros, com origem na saída de uma barragem, a única presença estranha no lugar.

Ao pôr do sol a vista é muito bonita com o reflexo das árvores na ribeira. Uma das melhores perspetivas é na ponte de madeira que fica próximo de uma pequena capela, construída numa encosta, ladeada de um maciço granítico.

“É pena a capela estar abandonada. Segundo sei é privada. Há 10 a 12 anos havia uma festa anual com missa e cerimónia religiosa. Era impressionante.” Ainda na memória de Luís Baptista, “vinham as senhoras com as fogaceiras vender os bolos e era uma festa enorme que se fazia aqui. festa religiosa impressionante. Juntava gente de todo o concelho e de outros concelhos. Almoçavam e celebravam missa cantada.”

A capela está classificada como Imóvel de Interesse Público, é propriedade privada e está datada de meados do século XVII. No interior preserva algumas pinturas e azulejos originais.
Foi mandada construir pelo abade João Cansado relativamente próximo da gruta, na outra margem, onde já se venerava a Senhora da Lapa e onde regressou a imagem.

“Consta que havia um arcebispo que veio para aqui desterrado e fez aquela gruta onde tinha a santa. Entretanto fizeram a capela. A gruta continua lá e no interior está a santa, a verdadeira.”

A imagem está colocada no alto de uma lapa. Há sinais de velas, mas o acesso está impedido por uma grade metálica. “A Senhora da Lapa chegou a estar na capela mas foi roubada mais do que uma vez. Entretanto foi recuperada.”

A Senhora da Lapa e a capela não estão associadas exclusivamente ao culto mariano. “Há uma lenda e eu fui engando por ela. Diziam que as mães vinham buscar os bebés quando nasciam à Senhora da Lapa.  Eu recordo-me que quando a minha irmã nasceu a minha mãe chamou-me e disse que o meu pai tinha acabado de entrar pela janela depois de a ter vindo buscar à Senhora da Lapa.”

Na expressão de Luís Baptista percebe-se o lamento pelo estado da capela e pelo fim da romaria, mas a tristeza maior é com o fogo persistente nos últimos anos. “O pior disto tudo nos últimos anos tem sido os incêndios, propositados, alguém anda a querer destruir isto. É uma zona muito bonita, é pena os incêndios.”

Apesar de algumas serras próximas terem sido devastadas pelo fogo a área de Lazer da Lapa foi salvaguardada.
A Grande Rota da Arcês, Rio Frio e rio Tejo tem uma etapa que começa na Zona de Lazer da Lapa

O recanto da praia fluvial da Lapa onde nasciam os bebés faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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