A Cabreira acompanha o rio Ceira alguns quilómetros antes de chegar a Góis. A bonita aldeia é um labirinto de ruas estreitas com casas de xisto e isolada por um anel de serras que só foi rompido nas últimas décadas.

Uma estrada, a M543, com excelentes vistas panorâmicas entre os concelhos de Arganil e de Góis, atravessa a Cabreira e praticamente marca o limite da povoação.

Na via principal não temos a ideia do labirinto, ruas estreitas e becos que nos prometem levar encosta abaixo até junto do rio.

“Na primeira travessa do lado esquerda, por aí abaixo, em ruas e becos, as casas é quase tudo de xisto. Aquilo é só becos, se for para lá perde-se nos becos. Dá para ir. Desce lá em baixo ao rio, tem uma ponte pequena e passa por aquelas casas que é tudo em xisto.”

A descrição é de Adelino, o mais recente morador da aldeia e que ajuda a combater a desertificação. Depois de se apaixonar pela Cabreira deixou a região de Lisboa e veio para a aldeia.  “Algumas das casas estão habitadas. Outras só casualmente, quando vem tudo de férias e nessa altura Cabreira tem muitos visitantes.”

Há ruas que praticamente não têm sol por serem tão estreitas. Noutros lugares resistem portas de madeira com trancas também de madeira e o buraco por onde passavam os gatos.
Por vezes não se sabe bem se estamos numa rua ou num logradouro privado. Se a passagem é publica ou é um telheiro privado com instrumentos agrícolas pendurados nas paredes.

O labirinto é mais fascinante próximo da Fonte Velha. Está assinalada com um painel de azulejos, mas a fonte esconde-se debaixo de uma cobertura de troncos de árvores.

A água surge do meio das rochas e segue depois num ribeiro em direcção à “Rua Fundo do Lugar”.
É aqui que começam as pequenas hortas, em socalcos, com o verde a contrastar com o castanho escuro do xisto e que marca a vista da maior parte do casario.

Da minha casa vejo as cascatas.  É uma vista sensacional. Eu fiquei apaixonado. A própria vista para a serra, lá para baixo, para a ponte da estrada que segue para Cadafaz e outras aldeias lá em cima no monte, é tudo muito lindo”.

Adelino vive na Cabreira há cerca de um ano. Falei com ele no café de Herminda, mais conhecida por Minda. É natural da Cabreira, uma aldeia que é muito diferente dos tempos da sua infância. “Muito. Não havia esta avenida, não havia luz, ninguém tinha água em casa, só no chafariz e fontenário. Ia tudo a lavar ao rio e às fontes. Toda a gente tinha suínos, algumas cabras ou ovelhas, ia-se ao mato todos os dias com lenha às costas, acartar estrume com cesto à cabeça, as terras eram cavadas com enxadas até ao cimo.”

O café de Minda fica à beira da estrada. Por vezes passava um carro e o movimento é maior no Verão com os turistas e emigrantes. Antes a estrada era o caminho dos carros de bois.

Aqui ninguém passava, só de cavalo ou a pé para se ir fazer compras a Góis”, no entanto, a aldeia tinha muitos mais habitantes. “Muitas crianças, mocidade, senhoras. A escola onde eu andei foi feita pelos nossos antepassados. Andámos lá mais de 30 alunos. Só com uma professora que dava aulas até à terceira classe. Hoje já não há a escola.”

A população residente pouca ultrapassa uma centena de pessoas e a escola primária é agora o Núcleo Museológico da Cabreiras, um espaço etnográfico.

A maioria das pessoas vivia do campo, da pastorícia, alguns ainda tiraram partido das minas de volfrâmio no decorrer da segunda Guerra Mundial e a emigração foi desertificando as povoações serranas. Lentamente também as azenhas junto ao rio levantaram os rodízios.

Lagar da Ponte da Cabreira

Da atividade agrícola, além do que resta dos moinhos, temos um excelente património que é obrigatório visitar. O Lagar do Lugar da Ponte Velha que tem ao lado cerca de duas dezenas de pequenas construções em xisto.

“Tem as casinhas das tulhas onde antigamente guardávamos a azeitona. Andávamos todo o dia e todos levavam a azeitona às costas para as tulhas. Acumulava-se lá até chegar a nossa vez para o lagar. Nós também temos lá uma casinha dessas de xisto”

O rio Ceira fazia mover um lagar e um moinho. Hoje é cenário de uma encantadora praia fluvial com o rio a esgueirar-se debaixo de uma ponte de pedra. Depois no vale acompanha a Cabreira e despede-se da aldeia debaixo de outra ponte, da estrada que liga a Cadafaz, e que nos oferece uma visão de conjunto da aldeia.

O labirinto de encantos de Cabreira junto ao rio Ceira faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *