A experiência é singular. Não é apenas saborear a comida. Podemos assistir à preparação do almoço pré-histórico a partir das 12h numa reconstituição que vai ter lugar durante todo o dia na Necrópole de Carenque, no concelho da Amadora.
A iniciativa é desenvolvida pela ARQA, Associação de Arqueologia da Amadora e tem ainda várias atividades, como por exemplo cozer peças de cerâmica como se fazia há seis mil ano nos arredores de Lisboa.
A Necrópole de Carenque fica no alto de um monte e tem três grutas artificiais, abertas no solo. Foram escavadas pelo homem para servirem de sepulcros.
O objetivo da reconstituição é mostrar como se vivia no neolítico final, Calcolitico, na altura em que foram construídas as grutas”.
Eduardo Rocha, presidente da ARQA, acrescenta que há ainda a representação de outros aspetos da vida quotidiana, desde a caça, agricultura, a olaria, tecelagem e produção de artefactos.
“As pessoas podem participar nestes “workshops” que mostram como se produziam os artefactos, como se vivia na altura, o contexto histórico daquele sítio. No fim fazemos a representação de como seria o enterramento nas grutas artificiais.”
Quanto ao almoço da pré-história, “nós não sabemos exatamente como confecionavam a comida, mas conhecemos os ingredientes que já tinham disponíveis. Alguns animais domesticados como ovelhas, cabras e porcos (que era essencial). Mantinham a prática da caça e teriam, por exemplo, coelhos. Nos vegetais já cultivavam ervilhas e favas e ainda os cereais como trigo e centeio.”
É a partir destes alimentos que é feita a refeição. “É essencialmente à base de carne de porco ou javali, com ervilhas ou castanhas.
Na verdade, seria mais correto com bolota cozida que era usual eles terem nessa altura. Juntamos erva aromáticas, que ainda se encontram no campo, e mel, que faz um refogado que é uma delícia e um sucesso junto dos participantes todos os anos.”
O almoço pode ser com vista para a enorme paisagem, designadamente para o Monte da Lua, na serra de Sintra, o que poderá dar uma dimensão mítica ou religiosa à necrópole de Carenque descoberta há 90 anos e classificada como Monumento Nacional.
Pensa-se que os povoados que utilizavam a necrópole se espalhavam por toda esta área e um deles estaria próximo do moinho que é hoje a sede da ARQA, na Amadora.
Nesta altura estes povos já dominavam técnicas de produção de alguns objetos, por exemplo de cerâmica. “Eles escavam o solo, colocavam as peças cobertas com lenha. Era depois fechado com barro ou outro elemento isolante para se fazer uma cozedura mais prolongada. O que nós chamamos soenga e que ainda é utilizada em algumas zonas de Portugal.”
É esta técnica de cozedura de cerâmica que se vai recriar durante a manhã.
Vários objectos de cerâmica, como também cobre, pontas de setas e punhais, foram encontrados no interior dos sepulcros colectivos e fazem parte do acervo do Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa.
Prepare-se: no sábado vamos ter um almoço da pré-história na Necrópole de Carenque faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.