Os Passadiços da Ribeira das Quelhas, na serra da Lousã, é um desafio à nossa força de vontade, um exercício de gestão de esforço e um encanto para quem gosta de lugares agrestes e selvagens. No testemunho de um visitante, quando se chega ao topo dizemos “consegui. Parece que chegámos ao pico do Evereste”.

A ribeira desce entre escarpas de xisto desde o alto da encosta, de a 1100 metros de altitude, no concelho de Castanheira de Pera, onde se guardava o gelo que era transportado para Lisboa.

A terra dos neveiros é o Coentral e é nas imediações de Coentral Grande que começam os Passadiços da Ribeira das Quelhas.

No início entre sombras de castanheiros e o som relaxante da ribeira. Alguns metros depois deparamos com um horizonte aberto e ficamos com uma ideia clara do que nos espera.

Sensivelmente um quilómetro a subir na construção de madeira que serpenteia a encosta quase sempre ao lado da ribeira.
Após ter subido pouco mais de metade do percurso encontrei o casal Ana e José Guerra que estavam de regresso e a contar os degraus. “516 a descer e ainda há muito mais para lá, até acabar. Está a ser mais fácil. A descer todos os santos ajudam.”
Quanto à subida, testemunham que “é um pouco difícil para quem não está habituado. Nós fazemos caminhadas e é mais fácil.”

Com calma e algumas paragens faz-se o percurso linear e tira-se partido de uma vista esmagadora.
A cor clara da madeira dos passadiços traça uma linha que contrasta com a encosta rochosa.
Na verdade, também impressiona a forma como em 2020 conseguiram construir os 1200 metros do passadiço numa encosta tão difícil devido à inclinação e à superfície rochosa.

Numa das encostas do vale a vegetação é mais rasteira. Na outra o arvoredo é alto, algumas plantas oferecem cor vivas e o som das muitas cascatas despertam a nossa atenção. Tal como sucedeu com o arquiteto que construiu pequenos miradouros junto às quedas de água da ribeira que se sucedem em algumas partes do percurso.

A presença da água foi um dos elementos que impressionou José Guerra, “principalmente os ribeiros. Dão uma sensação de paz e quando chegamos lá em cima dizemos: consegui. Parece que chegámos ao pico do Evereste. Não foi, mas pronto.”

No alto dos passadiços estamos próximos das eólicas e da zona mais escarpada da encosta.
Longe de tudo. Vê-se por entre o vale uma das aldeias do Coentral. Uma imensidão de natureza com pouca intervenção humana. Um labirinto natural que, segundo a tradição oral, permitiu aos habitantes da aldeia esconderem-se e ficarem a salvo das invasões francesas.

Aqui não há vestígios de agricultura, apenas pastorícia. Havia a tradição de um rebanho comunitário, mas Dona Zulmira diz que agora só há o seu rebanho. São pouco mais de 30 cabras que percorrem estas encostas ao lado dos passadiços. “Todos os dias, a chover e às vezes até com neve.”

Com neve deve ser bonito de ver, menos para caminhar. Com muito calor também não é recomendável e porque quase não tem sombras.
A alternativa é irmos mais acima, quase ao topo da montanha, ver os poços onde antes se fazia e guardava o gelo, em Santo António da Neve.

Passadiços da Ribeira das Quelhas no “Evereste” da serra da Lousã   faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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