Gondomar é a “Capital da Ourivesaria em Portugal” e tem uma rota dedicada à filigrana com passagem por um museu e artesãos a produzirem peças de uma precisão fantástica. Uma delas é o “coração de Viana”. Uma história de “rouba-corações”. O próximo passo é conquistar o “coração” da UNESCO como património mundial.

Começa amanhã, dia 17, a Romaria de Senhora da Agonia. São quatro dias festivos que juntam muitos visitantes e quinta-feira, às 16h, é o Desfile da Mordomia.
Uma imagem icónica de centenas de mulheres com o traje tradicional de Viana e muitas peças de ouro ao peito. Um dos desenhos mais conhecidos é o “coração de Viana” que, afinal, é um produto da filigrana de Gondomar.

Quem o garante é o artesão Eduardo Pereira. “Gondomar tem a tradição do coração. Foi normalizado como “coração de Viana”, mas é feito em Gondomar porque Viana não tem ourivesaria. É tudo feito em Gondomar. Viana do Castelo deu nome ao coração, adotou-o como símbolo da cidade e para divulgação. As festas da Senhora da Agonia e outras festividades começaram a ser conhecidas com o coração, mas na realidade ele é feito em Gondomar. Ainda hoje.”

Cerca de 60% da produção nacional de ourivesaria é de Gondomar.
A origem tem, talvez, mais de dois mil anos, devido a minas de ouro. Foi a partir do século XVIII que se constituiu uma rede de artesãos que permite a Gondomar auto classificar-se como a Capital da Ourivesaria em Portugal..

Uma das artes é a filigrana. Torcer dois fios, de ouro ou prata. Eduardo Pereira é um dos artesãos. “Já houve mais, agora somos relativamente poucos. Aderentes à Rota da Filigrana somos sete empresas. Certificadas somos cerca de 20 empresas.”

A maioria são de estrutura familiar. É exemplo a de Eduardo Pereira que começou a trabalhar com 14 anos de idade, “era um negócio que já vinha de família. Do meu avô, passou para o meu pai e agora vai continuar com o meu filho.”

Podemos visitar algumas destas empresas numa rota que foi criada em Gondomar e que permite descobrir todo o processo de produção. “Contacta-se a Câmara Municipal que agenda uma visita à Escola de Ourivesaria de Gondomar, ao Museu da Filigrana e a uma ou outra oficina que esteja disponível para fazer o trabalho ao vivo.”

No contacto directo com os artesãos vamos descobrir as várias etapas e a exigência de um conhecimento técnico pormenorizado “que se adquire ao longo de anos. Num ano não se aprende tudo. Exige muita precisão. Logo no início, quando da fundição, em que temos de calibrar a liga em relação à prata. A partir daí todas as peças têm as suas medidas, tamanhos, espessuras de fio para trabalhar.”

Eduardo Pereira acrescenta que é completo o ciclo de produção que desenvolve. “Desde comprar a prata fina, juntar a liga, fundir e ao final do processo da filigrana.”

O conhecimento é muito técnico e com o objetivo de perdurar o saber fazer foi criado o Centro de Formação Profissional da Indústria da Ourivesaria e Relojoaria (CINDOR).

Procura-se modernizar o fabrico. “Há designers que idealizam uma peça e depois somos contactados para saberem se é possível realizar. Também por iniciativa própria fazemos alterações no design das peças.”

Esta evolução traduz-se, por exemplo, na introdução de alguns materiais, mas a base continua a ser a tradicional. “A maneira de trabalhar é praticamente igual. Há sempre algumas alterações no design da peça, mas mantem-se muito. Eu, por exemplo, tenho em casa desenhos foram passados ao meu avô e eu continuo a fazer com base nesses desenhos. Também tenho desenhos contemporâneos que foram criados por mim.”

Eduardo Pereira tem duas peças em exposição num outro lugar que podemos visitar na Rota da Filigrana, a Casa Branca de Gramido.

A exposição tem peças deslumbrantes, de um pormenor mesmo de filigrana, e com grande diversidade de criações.
Por fim, vamos pedir a conta e já conhecemos o diálogo de quem vende e de quem compra.

Eduardo Pereira

Para quem compra acha sempre caro, mas eu considero que é um preço razoável tendo em conta o trabalho que dá. Por exemplo, um coração de Viana leva 25 a 30 horas a fazer. Por outro lado, a matéria prima também aumentou o preço devido às atuais circunstâncias internacionais.”

As visitas na Rota da Filigrana são gratuitas. Um outro instrumento para valorizar e preservar a arte da filigrana é a preparação para a candidatura a Património Imaterial da Humanidade.

“Rouba-corações” na filigrana de Gondomar faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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