O Museu de S. Roque em Lisboa tem quatro relíquias atribuídas ao santo que há vários séculos está associado ao amor e fertilidade. A controvérsia associada a S. Valentim fica ofuscada com a beleza de algumas peças de ourivesaria que podemos observar no museu.

Hoje vamos à igreja de S. Roque, em Lisboa, pedir a proteção do padroeiro dos namorados, S. Valentim.

Os relicários do Museu de S. Roque têm fragmentos de ossos de S. Valentim. Um dos relicários, de meados do século XVIII, faz parte da encomenda da magnifica capela de S. João Batista que D. João V fez aos melhores artistas italianos.

O relicário de S. Valentim, em particular, apresenta a forma de urna de secção poligonal, sustentada por anjos e por uma palmeira, sendo a tampa ornamentada por seis anjos.
É um relicário em prata dourada e cinzelada.
O autor, Carlo Guarnieri, foi um dos principais ourives italianos desta época.”

Gonçalo Carvalho Amaro

A descrição é de Gonçalo Carvalho Amaro, do Museu de São Roque, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
O relicário está ao lado de outro, muito parecido, com uma relíquia de S. Próspero e “na base reconhecem-se em medalhões cenas da vida de S. João Batista e o brasão de D. João V, encomendante desta peça que faz parte do conjunto litúrgico que acompanha a Capela de S. João Batista.”

O Museu de S. Roque tem mais três relíquias atribuídas a S. Valentim. Uma delas está guardada no interior da representação de um braço. A de maior destaque é a encomendada por D. João V e proveniente de Roma.

“Nos outros casos os relicários são de produção nacional e há outro com produção italiana.”

O Museu de S. Roque está a desenvolver uma iniciativa que pode explicar muitos dos enigmas destas relíquias.
“É o projeto Reliquiarum. O estudo não é só sobre as devoções, mas também no sentido antropológico. Provavelmente em algumas vai ser feita uma análise laboratorial. Estamos também a estudar as devoções e a documentação que acompanhavam as relíquias, as chamadas autênticas, que supostamente comprovavam que a peça era verdadeira e teria vindo do local onde estaria o santo enterrado.”

Na verdade, não há qualquer certeza sobre a autenticidade das relíquias do padroeiro dos namorados. Mais ainda, porque é muito incerta a história de S. Valentim. Há testemunhos da existência de três com o mesmo nome e com outra particularidade comum: todos teriam vivido no primeiro século depois de Cristo.

A ausência de documentação segura foi uma das razões porque a Igreja excluiu S. Valentim do calendário oficial dos santos, em 1969, no tempo do papa Paulo VI.

No entanto, terá sido útil à Igreja quando, no século V, instituiu 14 de Fevereiro como dia de S. Valentim para substituir uma festividade associada à fertilidade.

“O culto a S. Valentim surge pela Igreja no século V, numa tentativa de se acabar com uma tradição que havia em Roma, a Lupercália, uma festividade que não agradava muito à Igreja. Realizava-se quase sempre a 15 de Fevereiro. Era uma festividade de fim de ano, porque para os romanos o ano começava em Março. Com o dia de S. Valentim antecipou-se de 15 para 14 e foi uma forma de agregar uma tradição antiga com a tradição cristã.”

Se na Idade Média, S. Valentim começou a ser associado ao amor, as lendas e as crenças criaram raízes ao longo dos séculos. De tal modo que, mesmo excluído do calendário dos santos, atingiu uma dimensão que ultrapassa culturas e continentes. Talvez, mais próxima de uma devoção consumista.

As quatro relíquias de S. Valentim no Museu de S. Roque em Lisboa faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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