O Café Alentejano ronda os 90 anos de idade e o interior preserva o mobiliário desde a sua fundação. O vermelho dos sofás, cadeiras, portas e cortinas cria um ambiente quente e a luz natural suaviza os tons, muito próximo do cenário de um filme de época.

O Café Alentejano é um dos ícones de Portalegre. Já acolheu figuras ilustres e um cliente pontual foi José Régio.
Situado no início da rua do Comércio, há algumas décadas uma das mais frequentadas de Portalegre, o Alentejano continua a ser ponto de encontro na cidade e lugar de muitas memórias.

O mobiliário e a decoração interior são marcas de uma história que tem quase um século. “É original, desde 1936. As únicas alterações é nos sofás. Consegue-se distinguir o recuperado do original.

As mesas e cadeiras são também originais. Uma ou outra com um remendo, mas 90% são originais.”
Adelaide Neves, que trabalha no café Alentejano, refere-se a cadeiras metálicas e mesas com tampo de mármore. Há também vários sofás, todos vermelhos, e um deles está junto à parede decorada com um enorme painel de gesso que representa a ceifa.

Os relevos transportam para os dias de hoje cenas da rotina do corte e transporte da ceifa. Gestos revelam igualmente o matar a sede no calor tórrido de verão ou um casal numa pausa, com trajes tradicionais e ele com uma concertina.

O salão é muito grande. Ao centro está o balcão de madeira com o relógio na parede a marcar as horas e uma divisão social que no passado havia na clientela. “O café estava divido. Quando se entrava cada um ia para seu lado.”

A elite do lado esquerdo e os trabalhadores no lado direito já não é do tempo em que Adelaide Neves trabalha no Alentejano, há 23 anos. São histórias que lhe contam. Do passado e também do presente.

Adelaide Neves

“Qualquer novidade que há na cidade nós sabemos. Depois há as histórias que nos contam. Quando vinham aqui com os avós… Toda a gente tem uma história relacionada com o Alentejano. Há ainda os que andaram a estudar e passados 30 a 40 anos voltam e ficam admiradas por estar igual.”

Na rua está a estátua de um ardina. Em frente das largas janelas do café dois bancos de madeira são ponto de encontro e conversa. No topo da fachada ainda está a placa a anunciar a antiga cabine telefónica.

Sinais de que o Alentejano era o epicentro da vida e das novidades. Para alguns, o café é um museu vivo, onde se funde o presente com o passado.  Mas, sem dúvida que há algumas diferenças. O Alentejano “trabalhou muito tempo como café e restaurante. Agora é só café.

O horário é das 7h às 19h. Funciona muito bem de manhã, está quase sempre cheio. A partir das 15h é como a gente chama a conta gotas. Vai pingando. De manhã temos gente que está a trabalhar, consome e abala, e temos pessoas que vivem sozinhas e passam as manhãs connosco. Somos a única companhia.

O Alentejano espelha, de certa forma, o que é hoje o centro histórico de Portalegre. Por um lado, com evidentes sinais de abandono, de esgotamento económico e social. Por outro lado, com novos rostos entre a clientela habitual porque “o café faz parte dos roteiros turísticos. Ficam espantados com o painel da Ceifa.”

O mobiliário antigo, os sinais de arquitetura modernista, o tom chamativo do vermelho dos sofás, cadeiras, cortinas e pintura nas portas metálicas, são atrações para os turistas, no entanto, pouco alteram a rotina do Alentejano. Piores foram as desavenças com os jornais.

Antes tínhamos um jornal diário e outro desportivo. Mas depois começou a haver confusão porque alguém demorava muito tempo a ler.. Agora temos só um jornal regional.”

O Café Alentejano está classificado como Monumento de Interesse Municipal. É um edifício térreo, com cobertura em terraço e o interior é da autoria do pintor e decorador Benvindo Ceia.
Encontra mais informação histórica sobre o Alentejano aqui.
O histórico Café Alentejano de Portalegre faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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