A bateria militar de Alpena está tão bem camuflada na arriba fóssil da Costa da Caparica que há várias décadas se esqueceram dela e ficou ao abandono.  O tema da guerra regressou à atualidade, mas a visita ao conjunto militar é por outros motivos.

As galerias têm paredes grossas e resistem ao tempo e ao vandalismo.
Servem de abrigo precário ou local de curiosidade de algumas pessoas que no passa a palavra descobrem a estrutura de artilharia cuja origem remonta a mais de um século e que uma breve caminhada permite ver.

Joana Braga descreve o espaço como “uma ruína de uma antiga bateria militar, construída numa vala, aproveitando a orografia do terreno. Embora tenha um eixo de simetria, com muita repetição, como é frequente na arquitetura militar, constitui alguma surpresa e mistério.”

Joana Braga foi curadora de Os Passos em Volta, na Trafaria, um passeio performativo que me deu a conhecer as arribas e a bateria militar e integrado no projeto T-Factor.

“Das várias vezes que vim aqui encontrei crianças a brincar às escondidas no espaço interior, pessoas desta zona a passear os cães, gente a visitar o local por terem ouvido falar e também um grupo de pessoas a filmar um videoclip.”

Uma das referências é uma guarita militar. No topo da encosta temos uma visão de conjunto. “As coberturas têm vegetação por cima. Visava proteger de uma invasão por mar e está completamente dissimulada na paisagem”.

Podemos descer e andar cerca de um quilómetro a acompanhar a construção incrustada na arriba. Alguns compartimentos têm ligação entre eles, outros linha de vista.
Em quase todos um tubo com ligação ao exterior, pelo teto, que troca o ar por luz.

Grafitis, lixo, pedras e a escuridão em alguns compartimentos formam uma forte contraposição ao espaço exterior, sem eco mas com luz e vegetação.

Joana Braga partilha algumas destas sensações nas vezes que visitou a bateria militar.
Sobressaem as qualidades aurais, a reverberação daquelas salas é muito especial.
Há uma sensação de surpresa e de vontade de descobrir e há também uma postura meditativa, introspectiva.”

Escadas em pedra levam-nos à parte de cima, onde ainda podemos ver alguns dos espaldões que têm uma configuração quase natural no topo da arriba.
Era onde estavam colocadas as peças de artilharia para proteger Lisboa de uma frota naval hostil.  Ficam dissimuladas. Os únicos sinais visíveis são as torres de vigia.

As peças de artilharia – oito obuses Krupp de 280mm, – nunca tiveram uso num contexto de conflito. Após a Segunda Grande Mundial a estrutura serviu como paiol e depois ficou ao abandono.

Há vários estudos e propostas de utilização para as baterias de Alpena que estavam associadas às da Raposeira, também na zona da Trafaria.

Vale a pena escolher um dia com céu limpo para aproveitar o acesso à bateria e contemplar uma larga vista a partir da arriba da Costa da Caparica.
A vista alcança o Palácio da Pena em Sintra, o Bugio, a foz do Tejo e as praias que se estendem para Sul.

Bateria de Alpena – “a ruína de uma antiga bateria militar que provoca surpresa e mistério” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

2 Comments

  1. Jorge Dias

    Meu Deus, nunca imaginei ver uma coisa desta natureza!!! Sou militar reformado e estive vários anos colocado no BRT da Trafaria, (Batalhão de Reconhecimento das Transmissões) todos os militares que guarneciam a Bateria das Alpenas pergtencia ao BRT, a parte administrativa estava a meu cargo, daí a minha enorme surpresa quando via estas images e só espero espero que alguns daqueles que lá trabalharam consigam também ver o estado de degradação e abandono a que aqelas instalações chegaram. Para mim foi uma dor d`alma.
    O meu agradecimento vai inteirinho para quem fez esta reportagem, BEM HAJA.

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