O Cineteatro São João de Palmela tem mais de 70 anos e é uma “pérola” de Arte Deco.
Preserva muito do equipamento original e os traços arquitetónicos definem igualmente uma cronologia de afetos que marcam várias gerações.

“É um espaço emblemático e de rara beleza. As pessoas preparavam-se, sempre bem vestidas, para virem ao cineteatro. Tudo acontecia aqui, sobretudo as Festas das Vindimas com a eleição da Rainha das Vindimas e também os bailes.”

Estas são algumas das memórias de Maria João Camolas, vereadora de Cultura da Câmara Municipal de Palmela,  que desde jovem frequentou o cineteatro com os avós e tios que eram músicos.

O Cineteatro São João ocupa um lugar central na vila, junto ao Largo de São João e do miradouro para o castelo. Em frente do bonito coreto temos uma visão de conjunto do cineteatro com a torre e as portas e varandas metálicas.

A construção é de 1952. É um projeto do arquiteto alemão Willy Braun, marcado com o gosto de Arte Deco. Podemos ver em vários espaços muitos pormenores decorativos em ferro e estuque. O conjunto mais impressionante é o da sala de espetáculos.

O teto está todo coberto com figuras geométricas em estuque, que se repetem e servem de base decorativa ao sistema de iluminação. “É de uma beleza extraordinária.

Fizemos recentemente uma intervenção para instalação de vários equipamentos ,como por exemplo ar condicionado. Mantivemos tudo como estava”.

A sala tem lotação de 470 lugares. O balcão é arredondado, de cor rosa suave e com uma lista branca. No centro da sala, no teto, destaca-se ainda um enorme lustre de ferro forjado à mão.
Noutros espaços vemos lustres com o mesmo estilo e saliente-se outra faceta relevante: quase todo o equipamento é original.

Foram feitas várias obras de remodelação, mas manteve-se a estrutura equipamentos,  azulejos, candelabros.. Todas as peças emblemáticas, que na altura foram ambiciosas, já que se tratou de um projeto moderno.”

O Cineteatro São João encerrou em 1981 e esteve uma década fechado. Foi adquirido pela Câmara Municipal em 1989 e reabriu em 1991 reconquistando o papel de um dos principais polos culturais. “Continua a ser a principal sala de espetáculos do concelho de Palmela”.

Também do ponto de vista social o cineteatro mantém a centralidade. Realizam-se aqui vários eventos como a Semana da Dança – a companhia residente é a Dançarte – ou a Eleição da Rainha das Vindimas.

Os dois foyers são espaços enormes. As paredes estão decoradas com azulejos verdes. Destacam-se ainda portais de ferro e vidro e o piso de mosaicos verdes e brancos. Um ambiente acolhedor e com estilo adequado para bailes de época.

Têm tido lugar de forma fortuita, como sucedeu recentemente nas comemorações dos 70 anos, mas a aposta é reforçar a oferta. Mesmo no género musical porque “fará parte da nossa programação voltarem os bailes. A comunidade aprecia. Havia bailes com muito boa música, jaz, blues…

Maria João Camolas, vereadora de Cultura da Câmara Municipal de Palmela

Agora queremos voltar e ambiente é propicio para tangos, milongas… Gostariamos de receber as pessoas com estas temáticas.”

O bar é outro lugar de convívio. O balcão alto, em mármore e a decoração, também original, acentuam as memórias da época do cinema com as fotografias e cartazes de filmes afixados nas paredes. O cineteatro teve um dos equipamentos de projeção mais modernos em Portugal.

As máquinas ainda lá estão, mas não funcionam. Onde por vezes se projetam filmes é no terraço. “Havia no projeto original a ambição de se fazer uma cine-esplanada, o que não chegou a acontecer. Ainda não perdemos essa vontade.

Em todo o caso, temos um terraço com vistas amplas onde já dinamizamos noites de verão com muitos concertos e sessões de cinema.”

Terminamos com a referência ao “pai” do Cineteatro São João. O promotor do sonho de fazer em Palmela um lugar de encontro e dinamização cultural.
Foi Humberto da Silva Carvalho que sonhou ainda, além da esplanada, uma piscina e um ringue de patinagem.

Morreu em 1964 e cinco anos depois foi homenageado numa lápide que ainda se encontra junto da entrada para a sala de espetáculos e que foi descerrada pela atriz Hermínia Silva.
Está classificado como Monumento de Interesse Público.

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