Filipa Mesquita é uma das duas mulheres que faz parte do grupo de cerca de uma quinzena de bonecreiros de teatro D. Roberto. Participa regularmente em eventos de marionetas em todo o país e desenvolve um trabalho muito elaborado.

O ponto de partida, nas palavras de Filipa Mesquita tem quase duas décadas. “Comecei a acompanhar o universo tradicional dos D. Roberto em 2005/2006.

Fui interiorizando todo o processo, acompanhando festivais, recolha de informação, artigos… até que em 2019 decidi ser eu própria a fazer.”

Começou com duas histórias do repertório tradicional, o Barbeiro Diabólico e o Castelo dos Fantasmas, mas adaptou-as. “Tenho explorado essas duas histórias à minha maneira. De certa forma, fui-me apropriando de alguns conceitos até chegar à minha fórmula.”

Mesmo em alguns pormenores afirma a sua identidade, como por exemplo na guarita branca às riscas verticais pretas ou na roupa que usa, um avental preto decorado.Tudo o que apresento foi bastante pensado. A cor da minha barraca às riscas tem a ver com a praia do Norte de Portugal, a minha origem. Alguns bonecreiros utilizam um colete. Eu achei que era interessante usar um avental inspirado nos trajes do Minho, da noiva de Viana do Castelo.”

Este tipo de detalhes incluiu também os bonecos. “Por exemplo, o D. Roberto, a personagem principal, tem um figurino próprio. A sua roupa inspira-se num pescador das Caxinas, a zona onde eu moro. O espetáculo está associado a pequenas homenagens.”
O propósito de haver uma marca própria e de se apropriar das histórias tradicionais também a levou a alterar o enredo.

“No final quem acaba por matar a Morte é a Rosa. Porque o que eu digo em todas as histórias é que o amor é maior do que a morte. Eu achei que era importante dar essa perspectiva feminina. Normalmente o herói é o Roberto. Eu achei que era importante valorizar a figura feminina da história, a Rosa, que habitualmente fica em segundo plano.”

Assisti a um espectáculo de Filipa Mesquita numa maratona de Dom Robertos promovida pelo Museu da Marioneta. Um público dedicado e para o qual ela adaptou a interpretação.

“O meu espetáculo não é estanque. Adapto-me à audiência. As histórias estão alicerçadas com as suas personagens e a sua dinâmica e isso é respeitado. Noutros aspectos, há uma apropriação da narrativa.”

Filipa Mesquita é bonecreira e pertence à direção artística da Mandrágora que está a assinalar 20 anos como companhia profissional de teatro de marionetas.
Filipa Mesquita: o teatro D. Roberto com um “olhar” muito especial faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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