Ricardo Ávila é o único marionetista dos Açores que faz teatro D. Roberto. É multifacetado: ator de teatro, mediador de leitura… e um meticuloso “roberteiro” que aposta na renovação. Ele próprio se revela fascinado com esta forma de arte popular.

Ricardo Ávila começou o espetáculo a cantar e a tocar viola em frente da guarita. Uma forma melódica de contactar com o público e iniciar um processo de representação teatral que não é habitual nos Dom Roberto.

“Eu renovo sempre, mesmo no repertório tradicional. Percebo que é importante preservar o património oral, mas mesmo esse tem de ser feito de uma forma renovada. É assim que as tradições se perpetuam, ganhando formas contemporâneas.”

No interior da guarita, de chita com riscas azuis, vê-se a agitação dos primeiros movimentos com os bonecos.
Começa depois um novo diálogo com a assistência e o encanto dos bonecos, em particular nos mais novos.

Ricardo Ávila apercebe-se da reação do público, “sobretudo pelo que se ouve”. Tem um buraco no pano da guarita, mas raramente espreita. “São tantas as tarefas ao mesmo tempo, controlar o ar que passa pela palheta, manusear os bonecos e adereços e estar atento ao que o público está a emprestar ao espetáculo, que até me esqueço que tenho lá o buraco para espreitar.”

Ricardo Ávila é o único marionetista açoriano que faz teatros Dom Roberto. Vive na ilha Terceira e, apesar de nos Açores não haver registo desta arte de teatro popular, avalia de forma positiva a reação do público. “Divertem-se bastante. É um teatro muito visual, muito energético e nem sempre “cordato”.

Tem uma dimensão que, por vezes, pode atentar contra a moral e os bons costumes, satírico, e as pessoas apreciam isso. As crianças vivem este teatro de uma forma muito intensa, por vezes até com momentos de histeria devido ao movimento e à dimensão sonora dos Dom Roberto. Os adultos ficam mais à distância, mas também apreciam.”

Ricardo Ávila é muito versátil e dedicado. Minutos antes do espetáculo vi-o a exercitar o corpo, um exercício de aquecimento e concentração.

Tem formação no teatro, mestrado em marionetas, é ator e mediador de leitura.
Em 2019 deu o primeiro espetáculo. A estreia foi num festival. Diz que da aprendizagem o mais difícil foi utilizar a palheta que se coloca no céu da boca e que dá uma voz estridente aos bonecos.

Tem participado em outros eventos e percorre as ilhas dos Açores. Um dos lugares de eleição é o mercado. “É um sitio caótico onde vendem animais, vegetais, objectos em segunda mão e há um ruído permanente. Vou lá aos domingos de manhã que é para sentir a dificuldade de me fazer ouvir, procurar que as pessoas tenham interesse. É no mercado que vou esbatendo as minhas dramaturgias. Invariavelmente as pessoas param e apreciam. É uma experiência muito enriquecedora e é a melhor sala de ensaios devido ao feed back. Em casa as paredes não falam.”

O mercado, como laboratório, permite-lhe evoluir e ensaiar os enredos das histórias que está a criar. “Criei uma história durante a pandemia que o Rip Covid. Tenho uma outra em preparação que se chamará Os Piratas, uma temática muito açoriana.”

Além de fazer os Dom Roberto, Ricardo Ávila é ator na companhia Cães do Mar e exerce mediação de leitura.

Ricardo Ávila – o fascínio pelo teatro D. Roberto faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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