A Competidora de Aveiro é a loja mais antiga da cidade. No entanto, poucos a conhecem por esse nome. Tornou-se popular pela designação de Loja do Sr. António. É o nome do proprietário que durante cerca de 60 anos esteve detrás do balcão de mármore. Hoje é a filha e a neta que dão continuidade ao legado. Que não é apenas comercial. É também de afetos.

Conforme está escrito na tabuleta, afixada na fachada, a Loja do Sr. António foi inaugurada em 1957. A montra revela produtos antigos e cuja produção se mantém até aos dias de hoje, em particular de higiene.

Quando entramos reparamos de imediato nos armários com as tulhas onde colocavam alimentos para serem vendidos a granel, a balança antiga e o balcão de mármore.

São sinais de uma antiguidade quase desaparecida nestes estabelecimentos comerciais.
Atrás do balcão encontrei Rosa Vieira. “Eu sou filha da pessoa que abriu esta loja, assim como está, há cerca de 65 anos.”


Quando “era miúda vinha para cá nas férias. Brincava com outros miúdos na rua”.
Os miúdos deixaram de brincar na rua, hoje está repleta de turistas, mas Rosa Vieira guarda na memória imagens do interior da loja parecidas com o que se vê hoje.

“Os armários estão iguais. Isto era uma frutaria e o meu pai remodelou o espaço. Ficou assim, como está. Uma parte de mercearia e outra de papelaria. O que mudou foram os produtos vendidos. Antes era uma mercearia fina. “
Também mudaram alguns hábitos e hoje o que “mais vendemos é vinhos e no Natal frutos secos, queijo da Serra e bacalhau.”
A máquina registadora avariou e tiveram de a substituir. É o único sinal dos tempos de hoje.

A maioria dos produtos são de origem portuguesa e procurados por clientes antigos que se mantêm fieis, “alguns para determinados produtos como por exemplo gillettes. Temos também pessoas que vêm cá no Natal. Todos os natais. Podemos não os ver durante o ano, mas sabemos que estarão cá no Natal.”

António Santos

António Santos faleceu um pouco antes da pandemia. A que se seguiu o confinamento. No entanto, a filha e a neta querem dar seguimento ao legado. Têm um projeto de requalificação do prédio, de que são proprietárias, e esperam preservar o mais possível a decoração e o mobiliário da loja.

A preservação não é apenas física. Há também laços de amizade. Alguns antigos, que o pai estabeleceu com visitantes. “Pode parecer estranho, mas entre os turistas temos gente que vem cá para ver o meu pai. Não sabem que ele faleceu. Como foi antes do confinamento, essas pessoas estão a regressar. Muitos são brasileiros. Costumavam vir aqui e vêm saber dele.”

Um dos testemunhos desta relação de afetos é através das fotografias que Rosa Vieira guarda com carinho.  “Todas as fotografias que estão aqui foram tiradas pelos clientes. Temos uma, oferecida por uma senhora, que é uma espécie de prémio. Ela considera que, como o Presidente Marcelo não lhe deu nenhuma medalha, ela oferece esta foto como um prémio.”

A Loja do Sr. António fica no nº17 da Rua dos Mercadores, próximo do Rossio e do Canal Central da ria de Aveiro.
A família resistiu à tentação da pressão imobiliária. Nestes 65 anos de existência, só a pandemia obrigou ao encerramento da loja.
Loja de afetos do Sr. António em Aveiro faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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