A gaita-de-foles tem um som único. O fole dá magia ao ar e uma identidade inconfundível. Em A gaita-de-foles tem um som único. O fole dá magia ao ar e uma identidade inconfundível. Em Portugal há cada vez mais gente a tocar.
Um processo que ganhou uma nova dinâmica há duas décadas ao reunir vários entusiastas e deu origem à Associação para o Estudo e Divulgação da Gaita-de-foles.
Um deles foi Mário Estanislau e salienta que não foi um processo fácil. “Ao início, quando começaram a construir a gaita-de-foles, era muito difícil tocar. Era complicado encontrar as palhetas adequadas como também a pele para o fole”.
No entanto, houve uma grande evolução e tiveram o contributo de muitos especialistas. “Hoje está divulgada e deixou de ser tocada apenas no litoral. Expandiu-se para o interior. Por exemplo, em Castelo Branco, Covilhã e Fundão já se encontra gente a tocar.”
Mário Estanislau pertence ao grupo Roncos do Diabo com um bombo e quatro gaita-de-foles transmontanas, uma variante que foi recriada há duas décadas.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=rnpJ3Mep7O0]“Quando do projecto da Associação desenvolvemos um instrumento a que demos o nome de gaita-de-foles Transmontana porque foi concebida tendo em conta a recolha que já tinha sido feita, por exemplo por Michel Giacometti e também com um gaiteiro de Rio de Onor.
Entretanto houve uma grande evolução. Em Trás-os-Montes há a gaita de Miranda que tem uma sonoridade ligeiramente diferente e em quase todo o litoral toca-se a gaita galega”.
Mário Estanislau também é construtor de instrumentos musicais. Podemos ver a sua oficina em Maceira, no concelho de Torres Vedras com vários aparelhos e muita madeira. Pele de cabrito, para o fole, é que já não se vê. “Recorreu-se a uma alternativa que foi muito desenvolvida na Escócia. O gore-tex retém o ar e impede a acumulação de humidade”.
Aqui encontra em detalhe os elementos que constituem uma gaita-de-foles.
Para a construção de uma gaita de foles são necessários mais aparelhos do que, por exemplo, para um instrumento de cordas. E há requisitos específicos. Para construir e para aprender.
É preciso ir devagar e optar por uma das muitas escolas que há em Portugal. Mário Estanislau recomenda também cuidado com a opção da gaita de foles. “Em primeiro lugar deve-se gostar da música tradicional portuguesa e depois, em particular, da sonoridade da gaita-de-foles. Escolher um instrumento exige cuidado porque, por exemplo na Internet, há muita oferta e alguns são de fraca qualidade. Por outro lado, encontram-se muitas gaitas escocesas à venda e elas não se adequam ao nosso reportório e muitas não têm boa qualidade”.
Apesar da complexidade de uma gaita de foles,
Mário Estanislau diz que na sua experiência o mais difícil de construir foi, talvez, a sanfona. “Não pela dificuldade, mas pela grande quantidade de peças que temos de montar e colocar no sítio correto.” O instrumento que lhe deu maior prazer construir foi a guitarra portuguesa. “Pela sua geometria e beleza”.
Talvez exista também uma razão pessoal porque foi nos instrumentos de cordas que Mário Estanislau se iniciou na construção de instrumentos musicais. Gostava de ter um instrumento mas como não tinha dinheiro, ele próprio se iniciou na construção de uma viola quando tinha 14 anos. Considera que o resultado foi “uma coisa hibrida”, mas depois empenhou-se num cavaquinho e já teve mais sucesso.
Foi o início como construtor e instrumentista que o levou para a descoberta de outras sonoridades.
Mario Estanislau – a arte de construir e tocar gaita de foles faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.