No mármore frio na portada da capela somos avisados com a frase “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”. A frase fica registada na memória e não impede a curiosidade de entrarmos no enorme salão com milhares de ossos a revestirem as paredes e colunas.

Ossos de todos os tamanhos e só de crânios dizem que são cerca de 5 mil. Há ainda duas múmias. Uma de uma mulher, a outra de uma criança.

O ambiente na Capela dos Ossos do Convento de S. Francisco de Évora é a meia luz e com a contraposição de outros efeitos decorativos.
Os tetos têm frescos, pinturas de passagens biblicas, em tons alegres, tal como a talha dourada de um pequeno altar, mas quase tudo o resto está revestido com ossos.

Muitos visitantes ficam estupefactos com o cenário, mas pouco depois fotografam os pormenores ou tateiam os ossos. Constituem um conjunto de experiências vividas de forma muito pessoal, por vezes reflexiva.

Como também a frase inscrita na portada da entrada da capela.  “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”, hoje em dia já não me faz muita diferença. No entanto, lembro que a primeira vez que fui ver a capela mexeu comigo.”

O testemunho é de Ana Maria Fole, depois de uma vista à Capela dos Ossos do Convento de S. Francisco de Évora. O marido, José Fole também revisitou a capela e tem memória da “primeira vez que visitei a capela teria 15 anos, na altura era estudante e estava de férias. Foi o meu primeiro choque com a morte.”

A Capela dos Ossos do Convento de S. Francisco é do século XVII. É a mais antiga de meia duzia que existem em Portugal, essencialmente no Alentejo e Algarve.

A de Évora teve grande impacto e terá servido de inspiração a algumas das outras capelas de ossos, numa altura em que o contacto com a morte era muito mais natural. Não como sucede agora, nas palavras de Teresa Lousa, no estudo sobre “Capelas dos Ossos e Património Macabro em Portugal

“O contacto com a morte que hoje acontece de modo filtrado e profissionalizado (o hospital parece ser o local ideal para morrer e as agências funerárias e afins devem tomar conta dos dolorosos procedimentos), era outrora comum e vivido com mais naturalidade”.

Presume-se que os corpos e os ossos sejam provenientes de espaços de enterramento, nomeadamente da Igreja de S. Francisco, que é mais antiga e que faz parte do bonito Convento franciscano.

A Capela dos Ossos situa-se no antigo dormitório do Convento e o elemento mais recente é um painel de azulejos colocado na parede em frente da entrada da capela. É da autoria de Siza Vieira e projeta a vida num traço a preto e branco, cheio de movimento e com a força da presença de crianças.

Além da Capela dos Ossos vale a pena visitar o Convento de S. Francisco para se ver uma enorme coleção de Presépios  e, talvez muito mais relevante do que o património macabro dos ossos, a Igreja de S. Francisco que é de uma beleza extraordinária.

Capela dos Ossos de Évora: “pelos vossos esperamos” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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