Em todo o país há cerca de 70 edifícios com arquitectura simples e com uma fachada encimada com frontão triangular e em todos eles está escrito “24 de Março de 1866”.
É a data da morte do Conde de Ferreira e todos estes edifícios foram escolas primárias construídas com dinheiro do conde. Segundo o seu testamento disponibilizou 144 000 000 réis para a construção de 120 escolas.
As construções tinham requisitos específicos no que foi a primeira planta escolar a nível nacional, com duas salas e um espaço para habitação do professor.
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Foram construídas cerca de uma centena de escolas, após concurso, só admissível a vilas sede de concelho. A grande maioria esteve a funcionar quase um século.
A Aldeia Galega do Ribatejo, que hoje conhecemos por Montijo, foi uma das que concorreu. Além da verba resultante do testamento do conde de Ferreira a Câmara juntou 400 000 réis.
Começou a funcionar em 11 de Fevereiro de 1875 e foi a primeira escola pública de ensino primário no concelho do Montijo.
Joaquim Tapadinhas, professor, historiador e autor de um estudo sobre o ensino no concelho de Montijo, frequentou esta escola em 1946. Foi aqui que fez a 3ª e 4ª classe. Recorda-se da escola ter duas salas. A mais pequena tinha cerca de 30 alunos e a maior era frequentada por cerca de 40 alunos. Eram duas classes e o diretor morava dentro da escola.
Os alunos eram apenas rapazes e em quase tudo a escola de Montijo era igual às outras. Onde havia diferença era na zona envolvente porque não tinha espaço para a habitual horta do professor e o recreio dos aluno. As brincadeiras eram na rua. “A rua é larga e como o movimento não era grande não havia grande diferença”.
A escola era gratuita e chegou a ter mais de uma centena de alunos em cursos diurnos e nocturnos. No entanto, a taxa de absentismo e abandono escolar era muito elevada. Não havia muitos alunos devido ao poucos recursos das famílias e, por outro lado, não havia o hábito de ir à escola.
Segundo o estudo realizado por Joaquim Tapadinhas, cerca de metade dos inscritos nesta escola deixavam de a frequentar.
Há muitos relatos de imensas dificuldades no ensino em Portugal conforme se pode ler no estudo. Falta de recursos, falta de interesse, vazio de responsabilidade entre os municípios e o Estado central. Um sem fim de problemas.
No caso da sua passagem pela escola Conde de Ferreira, Joaquim Tapadinhas salienta a dedicação do seu professor e o método de ensino. O programa curricular era nacional. Havia livros para cada área de conhecimento. Na 3ª e 4ª classe eram realizados exames com um júri que vinha de fora. Os professores eram avaliados em função das notas dos alunos. Na altura muitos alunos “iam para a casa do professor que dava explicações gratuitas”.
Esta relação do professor com a escola e a comunidade é uma das maiores diferenças registas por Joaquim Tapadinhas. “O professor era uma pessoa muito respeitada. Passava na rua e os pais iam cumprimentá-lo. Depois, dependia da personalidade do professor. Podia ostentar esse valor simbólico ou ser uma pessoa normalíssima como os outros. De qualquer maneira era sempre muito respeitado.”
A conversa com Joaquim Tapadinhas foi no interior da escola onde já regressou várias vezes e diz ter gostado de andar aqui. Gostou tanto que depois foi para professor. “Gosto imenso em particular quando vejo os alunos. Quando dizem “olá professor” …. preenche-me”.
Professor e alunos estiveram aqui até à década de 50. Passou depois a secretaria da delegação escolar.
Hoje o edifício, pintado de azul, sobressai na Avenida dos Pescadores. Pertence à Junta de Freguesia e o espaço foi cedido à Sociedade Cooperativa União Piscatória onde instalou o bonito Museu do Pescador. É uma outra forma de descobrir a antiga escola conde de Ferreira.
Muitas outras antigas escolas foram adaptadas para novas funções. A grande maioria para atividades de acesso público.
Pode obter aqui mais informação sobre escolas antigas.
As escolas Conde de Ferreira faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:
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