O Museu da Indústria Baleeira de S. Roque do Pico gera uma sensação contraditória. Por um lado a admiração pelo risco e coragem dos baleeiros. Por outro lado, consternação pela morte de inúmeros cachalotes.
A indústria baleeira chegou aos Açores pela mão dos norte-americanos e muitos foram os açorianos que se sujeitaram a condições quase miseráveis para trabalharem nas embarcações ou emigrarem clandestinamente para os EUA.
Quase todo o processo estava nas mãos de estrangeiros mas no caso da Fábrica Armações Baleeiras em S. Roque do Pico foi diferente. Foi uma iniciativa de dois emigrantes que transportaram para os Açores as técnicas e as diversas formas de aproveitar os cachalotes e que tinham aprendido com os norte-americanos.
Conforme nos diz André Cabral, técnico do Museu, a fábrica começou a funcionar em 1946 e até esta altura era apenas aproveitada gordura do cachalote. O resto era deitado fora.
Com a fábrica passaram a aproveitar a carne, os ossos, a gordura… só deitavam fora o coração e os intestinos.
Esta unidade foi o maior e o mais importante complexo de transformação nos Açores.
No interior podemos ver máquinas enormes para secar, transformar e aprovisionar os produtos derivados. Há também uma camioneta, dois geradores, um moinho de farinhas, várias fotografias antigas e, segundo André Cabral, a peça que chama mais a atenção, um maxilar de um cachalote. Foi oferecido ao Museu depois de ter sido encontrado no fundo do mar.
Há também um arpão oferecido por norte-americanos mas que não era utilizado nos Açores porque as embarcações para a caça dos cachalotes eram mais pequenas. Se fosse utilizado o recuo da arma era suficiente para fazer virar o barco.
No exterior da fábrica, por cima das portas e janelas, estão enunciados alguns dos produtos mais relevantes que eram produzidos na fábrica: óleo, farinha, adubos e vitaminas. A maioria da produção de farinha ficava nos Açores. O óleo e vitaminas eram para exportação. O produto mais procurado era o óleo para utilização na iluminação pública. Alemanha e Inglaterra tinham representantes nos Açores para conseguirem importar directamente.
A laboração não era permanente. Era sazonal, normalmente de Maio a Setembro. Em média a fábrica tinha 60 trabalhadores e o máximo foi uma centena.
O trabalho não era fácil essencialmente devido aos cheiros intensos.
Aos olhos de hoje e em particular quando se vê as fotografias com os cachalotes, temos presente a outra sensação. A de consternação pela mortandade de cachalotes.
Segundo André Cabral normalmente os visitantes ficam impressionados e acham que isto não faz sentido. “Tentamos sempre transmitir a ideia da necessidade. Era preciso. Não era por desporto.”
Em meio século foram mortas 12 mil baleias nos Açores.
A boa notícia é que em Portugal foi erradicada a caça à baleia em 1986. Agora, a procura é apenas para satisfazer a curiosidade dos visitantes com observação de baleias e golfinhos. Pelo mar dos Açores passa um número considerável de baleias, uma grande variedade de espécies e são avistadas com maior frequência exemplares da baleia-azul.
Na ilha do Pico há ainda o Museu dos Baleeiros. Fica nas Lajes do Pico e é especializado na baleação artesanal.
Aqui pode encontrar estudo sobre a Industria Baleeira Insular da autoria de José Mousinho.
Este programa contou com ajuda à produção da Ilha Verde Rent a Car
Museu da Indústria Baleeira de S. Roque do Pico faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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