Viajar nos cerca de 200 km da Linha do Oeste é assistir ao vivo a um documentário sobre a criação dos caminhos de ferro em Portugal.
A circulação ferroviária na Linha do Oeste, entre Lisboa e a Figueira da Foz começou no final do século XIX e nos dias de hoje podemos ver uma parte substancial do património de muitas estações que ainda é o original.
Como precisa Paula Azevedo, arquiteta da Unidade de Património Histórico e Cultural da IP Património “os padrões são os originais com edifícios de arquitetura simples semelhantes à típica casinha portuguesa.”
Uma outra faceta destes edifícios são os azulejos que começaram a ser colocados nas paredes das estações há cerca um século.
Mafra, Torres Vedras, Bombarral, Óbidos, Caldas da Rainha e Leira são algumas das localidades por onde passa a linha de via única do Oeste e os azulejos vão retratando a realidade iconográfica de cada região. Em alguns lugares como Torres Vedras e Bombarral há muitas referências à agricultura e à vinha.
Há também azulejos alusivos a monumentos, etnografia e, por exemplo, nas Caldas da Rainha sobressai o trabalho de Rafael Bordallo Pinheiro. As praias são também retratadas tendo em conta que a linha do Oeste percorre uma zona turística e balnear.
Em algumas estações encontramos painéis de azulejos de desenhadores e ceramistas relevantes no século XX. Alguns painéis foram renovados recentemente num trabalho minucioso que esteve a ser desenvolvido pela Infraestruturas de Portugal (IP). Noutras estações há também azulejos dos prémios atribuídos do concurso “Estações Floridas” que o Estado Novo promoveu para as estações terem espaços ajardinados e embelezados.
A viagem de comboio leva-nos também à era do vapor. Conseguimos ainda ver muitos equipamentos utilizados para alimentar a caldeira da máquina. “Por exemplo, na estação da Amieira podemos encontrar depósitos de água, uma toma de água, uma placa giratória, cais cobertos… todo um ambiente que parece que parou no tempo e faz essa referência à era do vapor.”
Algumas destas locomotivas eram montadas num edifício junto à estação de Alcântara em Lisboa onde se iniciava a viagem. Agora começa em Mira-Sintra Meleças.
A construção foi um projeto atribulado com muitos entraves e adiamentos. Só com a Companhia Real dos Caminhos de Ferro o projeto entrou nos eixos e no dia 2 de Abril de 1887 foi inaugurada a ligação de Alcântara ao Cacém.
Um mês e meio depois foi a vez do troço até Torres Vedras e no ano seguinte completava-se a ligação até à Figueira da Foz. Em 1889 foi concluído o ramal de Alfarelos que liga a Linha do Oeste à Linha do Norte.
Um dos objetivos do caminho de ferro era impulsionar o crescimento económico das várias regiões, ricas em agricultura ou na exploração do Pinhal de Leiria. Na verdade, em alguns casos, o comboio chegou primeiro do que a rodovia para assegurar o transporte de mercadorias.
Alguma da história da ferrovia em Portugal pode ser descoberta com as Jornadas Europeias do Património que terminam este domingo e envolvem várias iniciativas relacionadas com o transporte ferroviário.
Estão agendadas visitas ao Metropolitano de Lisboa e às estações do Rossio e do Oriente, em Lisboa. Também há uma visita ao Museu Nacional Ferroviário no Entroncamento, onde está a decorrer o Festival do Vapor.
O património da Linha do Oeste faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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