A Pampilhosa teve uma das mais importantes estações de comboios de Portugal quando foi cruzamento da Linha do Norte com a da Beira Alta no final do século XIX.

Muito rapidamente o povoado de cerca de meio milhar de habitantes passou de uma economia agrária, com lastro medieval, para a fase industrial.

Talvez a melhor ilustração desta mudança é a carta que o chefe da estação escreveu ao dono da principal casa agrícola a encomendar 200 litros de azeite para iluminar a gare ferroviária que inaugurava no dia seguinte.

Carta do chefe da estação
Carta do chefe da estação

Solicitava ao “ilustríssimo amigo e senhor Melo” o “fornecimento à “Linha da Beira Alta 200 litros de azeite. Aproveito para lhe dizer que amanhã, 10, já tenho aqui bilhetes para todas as estações Norte e Beira Alta”.

A antiga bilheteira das duas linhas de comboios
A antiga bilheteira das duas linhas de comboios

Com a inauguração da estação muita gente tinha de ficar na Pampilhosa e alguns até a dormir. A Linha da Beira Alta não tinha horários sincronizados com a Linha do Norte que pertencia a outra companhia.
Surgiu uma nova fase na Pampilhosa a que acresceu a industrialização com fábricas de cerâmica.

Exterior da Casa Quinhentista
Exterior da Casa Quinhentista

A carta do chefe da estação está em exposição na Casa Quinhentista da Pampilhosa e onde funciona o Museu Etnográfico.
A gestão e posse da casa é de uma associação cultural – o Grupo Etnográfico de Defesa do Património e Ambiente da Pampilhosa, GEDEPA – a que pertence Ana Pires, nossa cicerone na visita.

Ana Pires com alguns objectos da Casa Quinhentista
Ana Pires com alguns objectos da Casa Quinhentista

A casa foi o centro da economia pré-industrial e o principal pólo económico da povoação. Quando da chegada do comboio pertencia à família Melo, uma das mais relevantes da região. Quase toda a gente trabalhava para esta casa agrícola que centrava a sua actividade no azeite. No entanto, a origem da construção é do século XVI.

Objectos de uma casa agrícola
Objectos de uma casa agrícola

A propriedade era do Mosteiro do Lorvão desde o século XII. Para melhor cobrarem as rendas as freiras mandaram construir um paço e depois o celeiro. Segundo Ana Pires o celeiro tem uma “expressão fantástica e é uma peça rara em Portugal”.

O pátio de entrada
O pátio de entrada

Entramos por uma porta de madeira larga. Passamos para um pátio onde já se podem ver objectos típicos de uma casa agrícola abastada. Logo na primeira sala deparamos com um conjunto de talhas muito grandes para o azeite.

Talhas para o azeite
Talhas para o azeite

Ao longo dos dois pisos da casa e do celeiro encontramos objectos muito diversos que ilustram a vida desta comunidade em particular na era pré-industrial. A diversidade também advém do facto de muitas peças terem sido oferecidas por locais.

Uma das salas com objectos de uma casa local
Uma das salas com objectos de uma casa local

O GEDEPA adquiriu o prédio quase em ruína no inicio dos anos 80. Havia uma forte preocupação de salvaguarda do património e o projecto era liderado por pessoas reputadas. O que permitiu ao proprietário vender por um preço “simpático” a casa e muitos populares quiseram partilhar peças antigas que tinham em casa.

Instrumentos utilizados na estação de comboios
Instrumentos utilizados na estação de comboios

Alguns dos objectos em exposição ilustram também a chegada da linha férrea, instrumentos ferroviários e até bilhetes para quase todas as estações da Linha da Beira Alta.

Sala das tulhas
Sala das tulhas

Uma das salas mais interessantes fica no piso térreo, a meia luz e está repleta de tulhas enormes. São reservatórios muito grandes e alguns ainda têm resíduos de azeite. São todos de pedra e há dois de madeira.

Um dos arcões de madeira
Um dos arcões de madeira

Os arcões foram forrados a folha de Flandres para conterem o azeite.
Na Casa Quinhentista há ainda uma biblioteca e um arquivo documental.
O GEDEPA procura ainda dar a conhecer a história e a cultura da Pampilhosa com a edição anual de uma revista.

Parte da biblioetca
Parte da biblioetca

Preserva o rancho folclórico e tem uma secção de teatro..
Ana Pires diz que a Casa Quinhentista é um tesouro escondido mas se visitar a Pampilhosa recomendo que descubra uma outra preciosidade que passa despercebida. 

A Fonte do Garoto
A Fonte do Garoto

São esculturas do mestre Teixeira Lopes cuja família instalou uma das primeiras fábricas de cerâmica na Pampilhosa.
Teixeira Lopes é o autor da estátua que está num chafariz. Chama-se a Fonte do Garoto porque a estátua de bronze representa um rapaz do povo. Duas outra estátuas estão na rua em frente. Suspensas numa parede e retratam duas crianças.

Esculturas do mestre Teixeira Lopes
Esculturas do mestre Teixeira Lopes

Em frente fica a casa de Joaquim da Cruz, primeiro presidente da Câmara na República e que ficou também conhecido por ser maçon, industrial e benemérito. A casa é propriedade da Câmara Municipal e vai ser restaurada.A Casa Quinhentista está em vias de classificação como Património de Interesse Público.

Ver: Roteiros no concelho da Mealhada

A Pampilhosa e o comboio na Casa Quinhentista faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo

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