O Pão de Ló de Coz, no concelho de Alcobaça, é de origem conventual, mas passou para segundo plano quando o rei D. Carlos adorou uma versão, alegadamente mal confecionada, e ficou conhecida como Pão de Ló de Alfeizerão. O de Coz está agora a ser reavivado.
“Se o rei gosta, então que se faça mais pão de ló como este”. É uma história, não passa disso, mas está bem contada para instituir o pão de ló de Alfeizerão, um dos mais conhecidos em Portugal.
A autoria é das monjas do Mosteiro de Santa Maria de Coz, que prestavam igualmente serviço aos monges do Mosteiro de Alcobaça.A origem do bolo é conventual.
À semelhança de outros conventos, em Coz o segredo monástico terminou em 1834 com a extinção das ordens religiosas e a passagem das monjas para Odivelas. “O que aconteceu depois é que havia aqui criadas. Algumas senhoras com alguma idade e completamente desenraizadas da família acabaram por ser recolhidas por casas da nobreza nesta região. Uma delas foi para Alfeizerão e tinha conhecimento das receitas dos doces do mosteiro.”
A escolha do Rei D. Carlos
Eurico Leonardo faz visitas guiadas ao Mosteiro de Coz e conta-nos ainda a história que deu fama ao pão de ló devido ao nervosismo da antiga criada do mosteiro que foi para Alfeizerão: “o rei D. Carlos ia regularmente a essa casa. Um dia a sobremesa da refeição do rei foi o pão de ló de Coz mas quando chegou à mesa ele abateu porque estava mal cozido. Mesmo assim, o rei quis provar e terá dito: Não, este é que é bom, não me deem o outro. E ficou o pão de ló de Alfeizerão que começou a ser comercializado com esse nome.”
vO pão de ló de Alfeizerão é mais cremoso e a receita passou a ser comercializada em 1925 por um padre e a família. Era uma das paragens dos viajantes da ligação rodoviária entre Lisboa e Porto que na altura passava por Alfeizerão.
A casa esteve várias décadas na posse da mesma família e recentemente o Centro de Bem-Estar da freguesia de Coz foi fazer-lhes um desfio – a reconstituição do pão de ló original, do Mosteiro de Coz. “Houve algumas alterações no sentido de que ficasse o mais próximo possível daquilo que era a receita original. Imagino que a senhora tenha a receita ou o conhecimento de como era o original.
No de Coz os adoçantes foram substituídos por açúcar escuro e o mel, que seria um dos adoçantes utilizados aqui.
A diferença é que o pão de ló de Alfeizerão é malcozido, se é que se pode dizer assim. O de Coz é um pão de ló seco. Poderia até ser o pão de ló utilizado pelos marinheiros quando iam à procura de outros lugares. É produzido na Casa do Pão de Ló de Alfeizerão”
Na Adega das Monjas, mesmo em frente do Mosteiro de Coz, podemos ver ou comprar o pão de ló próximo do original. É de facto mais seco e mais escuro, mas é igualmente saboroso. E aguenta-se muito tempo.
A caixa tem outro elemento distintivo. É uma estrela de oito bicos, igual ao padrão repetido centenas de vezes nos azulejos que cobrem as paredes da deslumbrante igreja do Mosteiro de Santa Maria de Coz.
Pão de Ló de Coz e do rei D. Carlos faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:
Pingback: A doce e quase centenária Casa do Pão de Ló de Alfeizerão - Andarilho