O mosteiro de Coz, próximo de Alcobaça, revela-nos duas facetas intemporais da nossa civilização: o génio da criatividade artística e a destruição provocada pelo saque e vandalismo. “O temor a Deus” salvou a igreja, um fabuloso património.

site_coz_mosteiro_exterior_8147Do que resta do antigo mosteiro vemos uma parte do antigo dormitório das monjas em ruínas colado, a uma torre sineira, mais robusta, que nos encaminha para o interior da deslumbrante igreja de Santa Maria de Coz.

site_coz_mosteiro_hdrLogo quando entramos ficamos fascinados, em particular com a beleza dos azulejos e do teto. Caixotões de madeira formam uma abóboda. O teto cobre toda a igreja e cada caixotão tem uma pintura. “É único na Península Ibérica”, diz-nos Eurico Leonardo, que nos fez uma visita guiada. site_coz_mosteiro_DSCF3891Ainda na sua descrição, seguindo as duas partes distintas da igreja, o teto tem dois motivos de decoração. Na parte do acesso público, “tinha uma função de catequese às pessoas que vinham à igreja. Do outro lado, o tema é a representação de santos importantes da Ordem de Cister ou da Ordem de S. Bento. Para que os seus exemplos pudessem ser seguidos.”

site_coz_mosteiro_8176A divisória das duas partes da igreja é feita por uma grade que ainda permanece. “Separa o público que vinha à igreja e as monjas. Sempre que estivesse alguém na igreja, nem que fosse uma única pessoa, a grade estaria fechada e a cortina corrida. O princípio seria não ver e não ser visto e nunca tocar.”

A parte da igreja que achei mais deslumbrante é a que estava reservada à vida monástica. As religiosas chegavam à igreja por uma porta que dava acesso ao dormitório que está em ruínas.
site_coz_mosteiro_8170As paredes do lado reservado às monjas estão revestidas com um enorme cadeiral, de duas filas, e toda a área restante está coberta com azulejos.
site_coz_mosteiro_8188A luz que entra pelas muitas janelas reflete-se nas paredes, faz brilhar o azul claro dos azulejos que são do século XVIII. “O importante é o azulejo padrão, com aquela estrela de oito pontos é, na verdade, espetacular.”

site_coz_mosteiro_8187O conjunto do revestimento das paredes e do teto causam algum deslumbramento. É mais correto afirmar que ofuscam de tal forma que até passa despercebido um portal manuelino em pedra e com as habituais esferas armilares. O portal faria parte da construção anterior da igreja e teria sido reaproveitado.

site_coz_mosteiro_DSCF3889A parte da igreja aberta ao público é igualmente marcada por azulejos, mas só cobrem parte das paredes. Ficam remetidos para segundo plano devido ao brilho da talha dourada em vários altares. O da capela mor tem ainda uma imagem da Virgem.
site_coz_mosteiro_sacristia_DSCF3934Um outro espaço deslumbrante é a sacristia. O teto também está pintado e as paredes estão igualmente revestidas de azulejos. Um dos painéis imita uma porta que daria acesso à igreja.
site_coz_mosteiro_sacristia_8210Os restantes são figurativos, contam a história de S. Bernardo, o patrono da Ordem de Cister a que esteve associado o mosteiro de Alcobaça e, mais tarde, o mosteiro feminino de Coz. Vieram para aqui mulheres da nobreza a partir do final do século XII. “Era um mosteiro feminino da Ordem de Cister. De clausura.
site_coz_mosteiro_sacristia_8211A história deste mosteiro começa pouco depois do surgimento do Mosteiro de Alcobaça. Vêm a Coz senhoras, piedosas, com uma intenção religiosa já muito marcada. Prestam serviço à abadia de Alcobaça. O que seria mais relevante era a lavagem dos hábitos brancos dos monges. Parece que o rio Coz tinha águas muito boas para a lavagem desses hábitos.
site_coz_mosteiro_sacristia_8209É uma comunidade que vai crescendo ao longo do tempo. São feitas algumas construções pela abadia de Alcobaça, o próprio rei D. Sancho reconhece essa importância e deixa-lhes em testamento esta construção. Na verdade, foi patrocinada pela abadia de Alcobaça e não por imposição régia como aconteceu noutros sítios. Em 1671 as primeiras construções são literalmente arrasadas e a obra vai dar lugar ao que ainda hoje vemos aqui. Havia mais mas desapareceu.”
site_coz_mosteiro_exterior_8224O edifício não chegou a ter grande dimensão, mesmo assim, albergou mais de uma centena de pessoas.
site_coz_mosteiro_altarmor_8203Foi o terramoto de 1755 que iniciou o declínio do mosteiro, obrigando a saída das monjas. Seguiu-se o decreto de extinção das ordens religiosas em 1834. O mosteiro é adquirido por um particular e “a igreja não está muito tempo fechada. A pessoa que a comprou devolveu-a ao culto poucos depois oferecendo-a à paróquia de Coz.”

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Eurico Leonardo

Na opinião de Eurico Leonardo” houve dois fatores que evitaram a destruição. O primeiro foi o serviço religioso, o culto, o uso por parte das pessoas. Depois, aquilo que eu costumo dizer, o temor a Deus, o medo de mexer no sagrado.”

site_coz_mosteiro_exterior_8148A parte do dormitório que resta revela um tipo de construção mais frágil e conseguimos ver corredores estreitos, frios e escuros. O mosteiro tinha outras instalações e, do lado norte, ao lado da sacristia, ainda passa a ribeira onde eram lavados os hábitos.
site_coz_mosteiro_exterior_8144Na parede deste lado da igreja vemos ainda dez janelas, mais uma, ao meio e de tamanho muito maior. Está virada para a ermida de Santa Rita que se encontra no alto de uma colina, a cerca de dois quilómetros de distância. “Dali consegue-se observar três fronteiras. Eu penso que é o único sitio dos Coutos de Alcobaça onde os três coutos são visíveis”

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Ermida de Santa Rita

Eurico Leonardo conta ainda a origem da ermida, quando da construção mosteiro de Santa Maria de Coz. “Uma das monjas terá visto naquele monte uma cruz iluminada. Passou a mensagem dentro e fora do mosteiro como se fosse um milagre. Começou a haver atividade religiosa mas as monjas estavam impedidas de participar.

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Mosteiro visto da ermida de Santa Rita

Quando o mosteiro é construído, o projeto é influenciado pela vontade das monjas de que existisse um enorme janelão para que elas, subindo no interior da igreja, à parte do coro e não podendo participar na atividade religiosa, podiam estar em alma, em espírito com a ermida”.

O mosteiro abriu as portas a visitas há cerca de quatro anos.

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Adega das Monjas

Do legado das monjas sobressai o pão de ló de Coz. De referir ainda o artesanato de junco que é uma tradição na freguesia. Para evitar a sua extinção há um processo de renovação e pode ser descoberto, mesmo em frente do mosteiro, na Adega das Monjas.

site_coz_mosteiro_exterior_8153A igreja é o deslumbrante tesouro (que restou) do Mosteiro de Coz faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo

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