Almeida mantém-se como uma vigorosa fortaleza. No passado, a estrutura em hexágono protegia da guerra, dos invasores espanhóis e franceses. Hoje, a muralha preserva a identidade e um fabuloso património.
Almeida fica numa zona plana e só temos uma perceção clara da vila quando nos aproximamos da praça-forte.
As elevações, os canhões, o enorme fosso… remetem-nos de imediato para a ideia de que estamos perante algo imponente.
Essa ideia transforma-se em certeza quando paramos em frente da Porta de S. Francisco ou da Cruz. A robustez da pedra, a arte do brasão logo acima da entrada para o túnel, o efeito do “picotado” nas pedras e nas colunas, o ar frio do granito da vigia que está no vértice da estrutura e, por fim, a beleza das várias tonalidades da pedra e do musgo a brilharem com o sol, fazem da porta um dos ícones da fortaleza.
Uma primeira impressão fiel do que vamos encontrar no interior.
O túnel tem alguns metros de comprimento e uma ligeira curva. É inteligente para uma estrutura defensiva e eficaz também na atualidade porque funciona como uma cortina no tempo. Passar para o interior é ir ao encontro de quase quatro séculos de história.
Até há pouco tempo era também labiríntico para o transito. “Antigamente era o ponto de passagem para quem entrava e saía o que, por vezes, obrigava alguns a recuar porque o caminho no túnel é estreito”, relata-nos Arminda Queimada. Agora é só local de entrada na Fortaleza, porque foi aberta uma passagem maior.
As ruas e os espaços mais largos mantêm uma organização antiga. Muitas casas preservam a estrutura original com uma porta para o primeiro piso de habitação e a porta maior para a loja de comercio ou de artesãos.
Diz a senhora Arminda Queimada, que reside há quase 8 décadas no interior da vila, que Almeida tinha muitos artesãos, “havia barbeiro, sapateiro, alfaiate… Agora já não arranjam sapatos e se quiser mandar arranjar um vestido também já não há.”
Arminda Queimada acrescenta que no interior da fortaleza vivem poucas pessoas e com alguma idade porque “os mais novos vão para os bairros que ficam no exterior. Dentro da muralha é mais sossegado. Há é muitos visitantes. Estrangeiros e portugueses. A vila é muito importante, a gente de cá é que já não liga.”
A arquitetura civil mantém-se fiel. Não sofreu grandes alterações e ajuda a recriar o imaginário de se viver no interior de uma fortaleza secular.
O que mais impressiona é a arquitetura militar. Em alguns casos de forma surpreendente. Dos vários exemplos possíveis, refiro o do atual Museu Histórico Militar. Fica no Baluarte de S. João de Deus, numa das “pontas da estrela” e antes servia de caserna, com vinte casas subterrâneas.
Visitar este espaço interior é muito interessante, mas o que mais impressiona é andar na muralha e ver os tetos de pedra – pedaços enormes – do Baluarte onde estão as casas subterrâneas.
“Aquilo é digno de se ver. Antigamente não tinha luz elétrica e a iluminação era com candeeiro a petróleo. Agora está toda iluminada. É um edifício muito bonito”, diz com gosto Arminda Queimada que estava a fazer um passeio na muralha ao final da tarde.
Uma volta em redor da vila. A esta altura e com sol é acrescida a beleza do reflexo dourado da luz nas pedras.
Das muralhas temos também uma vista diferente do casario e vale a pena percorrer o teto da porta de S. Francisco.
Temos uma noção mais concreta da extensão do Quartel das Esquadras.
Outra área interessante de percorrer a pé é entre o Picadeiro e as ruínas do castelo. A vista é ampla, em particular na direção do extremo onde está o Centro de Estudos de Arquitetura Militar.
É por aqui que fazem a reconstituição histórica do cerco a Almeida na III Invasão Francesa em 1810. “Habitualmente vem muita gente. Eu até fico encantada quando vejo lá em baixo muita gente.”
As ruínas do castelo projetam uma outra sensação: de como teria sido violenta a explosão do paiol, em 1810, quando da terceira invasão francesa. A explosão destruiu o castelo e esteve na origem da rendição aos invasores.
A torre que agora sobressai é a do relógio e que estava associada à desaparecida Igreja Matriz. “Foi onde encontraram parte da estátua da Senhora das Neves que reúne grande devoção em Almeida, apesar de não ser a padroeira.”
Almeida tem também uma Casa da Roda. Era onde as mães depositavam os recém-nascidos porque não podiam ou não queriam ficar com eles. Como era habitual esta casa está num sítio muito discreto.
Almeida – a fortaleza do tempo faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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