O 11º e último Conde de Atouguia foi supliciado em Lisboa em 13 de Janeiro de 1759. Estava acusado de cumplicidade na tentativa de homicídio do rei D. José.
O “azar dos Távoras” de Jerónimo de Ataíde é que era casado com Mariana Bernarda de Távora, filha dos marqueses de Távora, uma linhagem que foi praticamente extinta por vontade do rei e ação do Marquê de Pombal.
O mesmo sucedeu à linhagem dos Ataíde, do conde de Atouguia. Acabou e os bens foram confiscados pela Coroa. Nem o símbolo da família nobre resistiu à fúria do Marquês de Pombal.
Deu ordens para colocar no esquecimento a linhagem dos condes de Atouguia com picagem das várias armas heráldicas. O objetivo foi destruir a simbologia associada á família dos Ataíde em edifícios públicos no território que hoje corresponde ao concelho de Peniche. O historiador Rui Venâncio, da Câmara de Peniche, dá como exemplo “as armas que estão na porta de armas da Fortaleza de Peniche, no pelourinho que está junto à igreja de S. Leonardo.
Também na própria igreja, no túmulo do fundador da linhagem, Álvaro Gonçalves de Ataíde cuja armas também estão picadas”.
Mas aqui, houve uma falha no cumprimento da ordem. “O túmulo tem as armas picadas numa face mas o pedreiro não picou na outra face, que dá para a sacristia, porque ele não devia saber que estava lá o escudo e, por isso, as armas do conde estão intactas.”.
No pelourinho, que está no meio do largo, bem podemos procurar porque pouco ou nada se percebe do brasão. O capitel, no alto da coluna, está todo deformado. O pelourinho é do seculo XVI, está classificado como de Interesse Público e a bonita igreja Matriz de S. Leonardo, mesmo em frente, é Monumento Nacional.
O tumulo de Álvaro Gonçalves de Ataíde está na parede da igreja, no lado esquerdo, próximo do altar-mor e em cima tem algumas inscrições. É no outro lado, na sacristia que finalmente conseguimos ver um escudo desenhado em relevo.
Foi com Álvaro Gonçalves de Ataíde que os Ataíde se tornaram uma das famílias mais ricas da nobreza e ficou senhor, entre outras terras, de Atouguia da Baleia. Na altura a localidade tinha um porto costeiro porque o que é hoje Peniche, era na altura uma ilha.
Segundo Rui Venâncio, Álvaro Gonçalves de Ataíde era muito próximo de D. João I e a ascensão da família acompanha toda a Dinastia de Avis. “Todos os descendentes acabam por exercer cargos importantes na hierarquia e na estrutura administrativa da Coroa nos seculos que se vão seguir.”
No exterior da igreja encontramos uma cronologia dos Ataíde, contada em azulejos e com especial referência para o vice-rei da Índia. “Luís de Ataíde foi vice-rei da India por duas vezes no século XVI. Deixa também uma marca importante que foi o arranque da fortificação da região com o objetivo de defender o território da pirataria, em particular a francesa.”
Alguns anos depois da execução dos condes de Atouguia, em Belém, e após a morte de D. José, a filha do rei ainda tentou salvaguardar a honra da família, mas os Atougia nunca mais voltaram a ter o título nobre.
A picagem das armas do conde de Atouguia faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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