Atouguia da Baleia oferece-nos um importante património religioso que, ao mesmo tempo, espelha as estruturas sociais dominantes e os movimentos culturais desde a formação da nossa nacionalidade.

Igreja de S. Leonardo

A imponência e a riqueza artística desse património está também associada a uma profunda alteração geomorfológica do concelho de Peniche. Atouguia da Baleia foi durante vários séculos um dos principais portos portugueses, protegido por uma ilha que é hoje Peniche.

Porto de Peniche

Desse longo período de tempo, como sublinha Rui Venâncio historiador e coordenador da área da Cultura do município de Peniche, o legado é de quatro igrejas “de épocas diferentes e mostram a importância que a vila de Atouguia da Baleia teve ao longo do tempo, em particular na altura em que era um concelho autónomo, ainda não associado a Peniche como veio a ser mais tarde.”

Igreja de S. José, Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia

A igreja da Misericórdia recebe a influência de arquitetura maneirista. Próximo está a de S. José, com traços barrocos e hoje alberga o Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia.

Igreja da Senhora da Conceição

No largo principal destaca-se a igreja da Senhora da Conceição com torreões de Pedra, acompanhada de um touril, um conjunto raro em Portugal.

Igreja de S. Leonardo: das parturientes e da mandíbula da baleia
A igreja de S. Leonardo assemelha-se a uma fortaleza e, de certa forma, reflete o domínio das várias famílias nobres e da realeza, senhores do território.

Igreja de S. Leonardo

Está classificada como Monumento Nacional. “É uma igreja de grande imponência e onde encontramos a transição entre o românico e o gótico. Data do século XIII.  Tem a curiosidade de ser consagrada a S. Leonardo, o que não é vulgar em Portugal.  A igreja de S. Leonardo é a única em Portugal consagrada a este santo e inclusivamente é a única paróquia.”
O portal da entrada é decorado com motivos góticos e o interior é sóbrio. Domina a estrutura de pedra, paredes pintadas de branco e uma passadeira vermelha na nave central encaminha o nosso olhar para a capela-mor.

É também simples, com vitrais que enchem de luz o espaço definido por uma ogiva. No lado esquerdo, embutido na parede temos uma peça em calcário branco que é uma das “jóias” da igreja de S. Leonardo. No dizer de Rui Venâncio o retábulo da Natividade “é uma peça notável.”
Está associado à cultura popular, a um dos atributos que o povo vê em São Leonardo e que tem a ver com as parturientes.
“Nesse sentido há uma série de elementos decorativos da igreja que nos levam à temática da natividade.
Um deles é este retábulo em baixo relevo do século XIII. É uma peça notável devido às suas características que nos apontam para a influência de uma escola francesa.”

Retábulo da Natividade

A Rainha D. isabel, que tem uma estátua no espaço exterior também tem uma relação com o retábulo. Atouguia esteve na posse da rainha e uma lenda diz que “certo dia, o infante D. Pedro, futuro rei D. Pedro I, estaria doente e a rainha foi rezar de forma muito fervorosa à Natividade. De repente houve um estrondo e ela reparou que a peça estaria fissurada de um lado ao outro. Hoje vemos ainda a peça fissurada. A rainha regressou depois ao paço na Serra d’El rei, onde estaria nessa altura a residir, e o seu neto, D. Pedro, estaria curado”.
Ainda associado à Natividade destaca-se um presépio atribuído à escola Machado de Castro.
Tem a tradicional Sagrada Família, mas foram acrescentadas várias figuras etnográficas, de épocas diferentes, e vários animais, como por exemplo um elefante. O presépio está guardado numa caixa de madeira, com porta de vidro, próximo da entrada da igreja, no lado direito. Não muito longe de uma mandibula enorme, com vários metros de altura, encostada a um canto da parede.

“O osso de baleia, não sendo da igreja, povoou o imaginário das pessoas porque há a identificação de que aquele osso teria sido retirado da igreja no âmbito  da intervenção de recuperação da igreja na década de 70 do século XX.” No entanto, refere ainda Rui Venâncio, “aquele osso provém de Peniche mas evoca um pouco a história da própria vila, centrada na atividade piscatória”.
Apesar de hoje estar distante do mar, por força da alteração geomorfológica do território, Atouguia da Baleia teve uma atividade piscatória importante, em particular de captura da baleia durante a Idade Média.
O osso da baleia está num lugar discreto e não ofusca cinco pinturas que estão nas paredes da igreja. São todas do século XVI e uma delas, da autoria de Diogo Contreiras, um dos maiores pintores dessa época, retrata S. Leonardo.
Por ultimo, destaca-se o túmulo do 1º conde de Atouguia, a família que a partir do século XV tomou conta da vila. Alguns foram figuras destacadas, mas a linhagem teve um fim trágico devido a ligações familiares com os Távora.
O 11º conde de Atouguia casou com uma filha dos Marqueses de Távora e, na sequência do atentado contra o rei D. José, foram todos executados. O Marquês de Pombal mandou destruir as armas nos brasões.

As armas dos Atouguia destruidas no pelourinho

Foi o que sucedeu no pelourinho que está em frente da igreja e também no túmulo do fundador dos Atouguia, na capela-mor. Só que o pedreiro não sabia que é visível uma das faces do tumulo no interior da sacristia e deixou ficar para a história o escudo da família dos Atouguia.

Escudo dos Atouguia

O surpreendente património religioso de Atouguia (e do osso) da Baleia faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo

Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *