O roteiro é doce e com história. Envolve ingleses e os penichenses.
Como estamos em Peniche o esperado é começarmos pelas sardinhas. Mas, desenganem-se, são doces.
Por isso, vamos primeiro aos doces regionais que são à base de amêndoa e os mais antigos e mais vendidos são os penichenses. Diz Alberto Cruz, proprietário da Pastelaria Roma, que é um pastel feito à base de ovos e amêndoas.
O outros doce regional é o esse. Também é feito à base de amêndoa e é um biscoito. Tem um ligeiro sabor a casca de limão e não é tão seco como outros de diferentes regiões. Refere ainda Alberto Cruz que “os esses de Peniche são ligeiramente macios e aveludados por dentro e por fora e ligeiramente crocantes. Isso dá-lhe um toque especial.”
Os esses têm o sabor dominante da amêndoa e desfazem-se lentamente na boca. A degustação tem um problema. São doces muito pequenos. “Eu costumo dizer e alguns clientes também que os esses de Peniche são tão pequenos que o difícil é só comer um.”
Enquanto estive na pastelaria vi várias pessoas a comprar. Em caixas e sempre mais de meia dúzia.
Os penichenses são diferentes. São maiores embora tenham igualmente o sabor a amêndoa.
O domínio da amêndoa na doçaria de Peniche tem uma explicação interessante: “a origem remonta há algumas décadas atrás quando da construção de fábricas de conserva de peixe em Peniche. Para as fábricas veio mão de obra especializada do Algarve e trouxeram a tradição da amêndoa para os doces.”
Esta influência dos algarvios remete também para uma outra observação. Estes doces estão registados, mas a sua origem não é de um passado muito distante. A iniciativa começou com algumas mulheres com fabrico caseiro. Segundo o relato de Alberto Cruz, uma delas abriu mais tarde a primeira pastelaria em Peniche, a Pastelaria Resgate. Era este o nome da senhora que era detentora de uma das receitas.
Foi também neste estabelecimento que além dos esses foram criados os penichenses. Mais tarde, com o encerramento da pastelaria, um familiar de Resgate foi trabalhar para a Pastelaria Roma onde começou a fazer os esses e os penichenses.
Com os peninchenses há ainda mais uma história que remete para a chegada de um contingente militar de ingleses a Peniche em 1589 para ajudar a restauração da independência. Na verdade, a incursão foi um desastre e pautou-se mais pela pilhagem desencadeada por alguns mercenários que faziam parte do contingente.
Conta-se que em Lisboa se desesperava pela chegada da ajuda e perguntavam pelos “amigos de Peniche”. É este o nome que associam aos penichenses. Para recordar a história em cada caixa da Pastelaria Roma os pasteis são acompanhados de uma folha com uma breve descrição da lenda.
Vamos agora à sardinha, o doce que eu mais gostei. É uma criação da pastelaria Roma e baseia-se no pastel de Peniche, um doce frito com amêndoa, doce de ovos, raspa de limão e canela.
Alberto Cruz decidiu acrescentar doce de gila que simboliza as tripas da sardinha. O formato é de uma sardinha.
Como se entende rapidamente o problema é escolher. É o mesmo problema de Alberto Cruz quando visita os amigos e leva uma recordação que tem de ser grande e variada para contentar a preferência de todos. Ele prefere os penichenses.
Os amigos de Peniche faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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