Um dos “sarilhos grandes” aparentemente está resolvido. Tem a ver com o modo de vida de comunidades junto ao Tejo e de que forma participaram e foram influenciadas pelas trocas marítimas.
A análise incidiu numa necrópole de origem medieval que foi descoberta em frente da igreja de S. Jorge em Sarilhos Grandes, no concelho de Montijo.
Foram exumados 21 esqueletos e a investigação bio arqueológica revelou dados interessantes a partir da região do abdómen de 4 indivíduos cuja janela temporal vai do século XV ao século XVII. Encontraram-se vestígios de alimentos de carne, vegetais, do arroz que foi introduzido pelos árabes na Península Ibérica no século VIII e também da batata proveniente da América.
Segundo Paula Pereira, que faz parte da equipa de arqueólogos que há uma década anda a fazer o trabalho de investigação, depreende-se que estas comunidades já tinham um mercado global de alimentos. O arroz proveniente da Ásia e introduzido pelos árabes na Península Ibérica no século VIII e a batata proveniente da América e que este estudo revela que chegou a Portugal mais cedo do que se estimava.
O primeiro registo oficial do envio de batata é de 1567 para consumo nas Canárias. Especula-se que a chegada à Europa Continental tenha ocorrido em 1570, pela mão dos espanhóis e em Portugal a data referida é de 1643. Dois dos corpos exumados revelam vestígios de amido e estão datados de 1324 a 1625.
Pretende-se agora aprofundar o projeto de investigação alargando a amostra da pesquisa e permitir recolher mais dados sobre a vida destas comunidades e a sua participação nos descobrimentos.
Uma das pessoas que participou na expansão portuguesa foi Ruy Cotrim um fidalgo que esteve em Alcácer Quibir em 1501 e no ano seguinte foi capitão da segunda armada de Vasco da Gama à Índia. Os seus restos mortais estão curiosamente mesmo ao lado do sitio arqueológico.
Na Ermida da Nossa Senhora da Piedade que está endossada na igreja e foi construída como panteão da família Cotrim.
A ermida é de estilo manuelino e o exterior destaca-se pela abobada que termina em bico. Ostenta um brasão da família e foi restaurada em 1991 alguns anos depois de terem roubado objectos do interior. A ermida tem vestígios de azulejos, um altar e duas sepulturas no pavimento. Numa está referida a data 1583 e que o túmulo é de Ruy Cotrim de Castanheda.
A igreja é de estilo barroco e a sua origem deve ser da Idade Média. Sofreu ao longo do tempo profundas alterações em particular nos dois últimos séculos. Destaca-se uma tela do século XVIII de S. Jorge a matar um dragão e o revestimento das paredes em azulejos, azuis e brancos, que datam de 1740.
A igreja e a ermida estão classificadas como Imóvel de Interesse Público e podem ser visitadas.
A partir deste Sábado e até ao final do ano há também a possibilidade de ver uma exposição sobre os trabalhos arqueológicos realizados em frente da igreja. A exposição intitula-se “Sarilhos Grandes entre dois mundos: o Oriente e o Ocidente”, é na Galeria Municipal do Montijo e pode-se ver um esqueleto, vários objectos encontrados nas escavações e informação pedagógica sobre a batata e outros alimentos e especiarias que foram novidade na expansão dos Descobrimentos.
O mercado global de alimentos em Sarilhos Grandes faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, O mercado global de alimentos em Sarilhos Grandes, pode ouvir aqui.