A Malcata deve ser a serra mais enganadora que existe em Portugal.
Tem uma Reserva Natural cujo símbolo é o lince ibérico mas, talvez há mais de meio século, que não anda nenhum por aqui. Acabaram as zonas agrícolas, foram substituídas por pinhais e mato e o lince deixou de ter presas para caçar.
As pessoas que vivem junto à serra, como por exemplo no Meimão, há muitos anos que os deixaram de ver.
Entre um grupo de homens na esplanada de um café encontrei alguns que quando eram jovens foram pastores e andavam na serra. Não só viam os linces como um dos homens até contou que lhes atirava pedras para fugirem dos cães que os perseguiam. Agora deixaram de os ver, como também os coelhos.
Sem pessoas para limpar o mato e cultivar os terrenos dificilmente o lince vai regressar e se cumpre um desejo que originou movimentos populares e ecologistas sobo lema “Salvemos o lince e a serra da Malcata”.
Agora, a escassez de alimentos até leva alguns animais a entrarem nas aldeias como por exemplo o gato bravo e os javalis.
Um outro motivo porque a Malcata é enganadora é que de vários pontos da serra temos a sensação que o cume das colinas ondula como num bailado mas tem sítios que se erguem muito mais alto do que os restantes, com mais de mil metros de altitude.
Num deles está a Torre de Vigia, também chamada dos Sete Concelhos conforme diz Honorato Neves que conhece bem a paisagem que se alcança. “A vista alcança algumas terras de Espanha e do lado português conseguimos ver sete concelhos: Belmonte, Covilhã, Fundão, Idanha-a-Nova, Sabugal, Penamacor e Castelo Branco”. Chegar à torre de vigia praticamente só é possível a pé, conforme me explicam no Meimão.
A Malcata é ainda enganadora porque encontramos quilómetros e quilómetros de paisagem selvagem, sem qualquer vestígio da presença humana e, afinal, parte significativa da flora resulta da intervenção humana. Como também o imenso e refrescante lago da barragem da Meimoa.
A serra tem três cursos de água. A ribeira da Meimoa, o rio Baságueda e o rio Côa. Nas proximidades dos cursos de água a vegetação não foi muito alterada. Nos outros locais varia consoante a altitude e a exposição ao sol. Ainda há muitos carvalhos, azinho, sobreiros e medronheiros mas o pinhal tornou-se dominante conforme testemunha Henrique Cunha do Meimão – “quase toda a produção é dirigida para a indústria da celulose”.
Com a desertificação muitos espaços agrícolas foram conquistados pelo mato que nos meses de Maio Junho ficam floridos de branco e amarelo das giestas. Percorrem-se bem os trilhos mas a densidade do mato, os vales profundos e sem ninguém exigem que as caminhadas sejam feitas sem riscos porque mesmo quem conhece bem a serra receia perder-se em alguns recantos.
Em alguns lugares há fontes e sinalização. No topo das colinas temos vistas fantásticas e noutros sítios assistimos ao regresso de algumas espécies e ao enriquecimento da biodiversidade da Malcata. É o caso das corsas. Dois exemplares depois de me darem as boas-vindas fizeram uma corrida com barreiras, e rapidamente desapareceram no meio do mato.
Salvemos o lince e a serra da Malcata faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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