Acredita que um padre tivesse 299 filhos? É uma lenda que em Trancoso foi vivida como verdadeira e muito recentemente os residentes até se orgulhavam de poderem ser descendentes do padre Costa.
Santos Costa, historiador, é autor de um romance onde a figura central é o padre Francisco ou Fernando Costa. Há dúvidas sobre o verdadeiro nome mas os relatos são mais precisos sobre a sua capacidade reprodutiva – teve 299 filhos de 53 mulheres.
A lenda remonta ao séc. XV e hoje o feito é assinalado em Trancoso. Faz parte do imaginário popular, a par de outra lenda que é o Bandarra.
A quantidade de filhos e o ter sido padre enriquecem a memória e até é motivo de lembranças de quem vai a Trancoso. Logo na primeira loja quando se passa a Porta d’el Rei uma das lembranças é o Chá Padre Costa.
Diz a empregada da Casa da Prisca, com um grande sorriso, que o chá é de flores e é forte, “tem todo o poder de seduzir e produzir”.
Há ainda ilustrações e chávenas com a frase “Padre Costa o povoador das Beiras”.
A referencia de ter sido o “povoador das Beiras” deve-se a um alegado perdão de D. João II que evitou a sua condenação. O padre Costa tinha 62 anos e uma pena pesada e com tortura mas não a cumpriu devido ao “forte contributo para povoar” a região. Este documento aparece referido por vários autores e em vários escritos mas até agira ninguém o encontrou.
Na altura não era fora do comum os padres serem progenitores e assumirem a paternidade. É o caso de um contemporâneo do padre Costa que teve dois filhos de uma mulher plebeia e foi perdoado pelo Rei. Neste caso está provado o documento do perdão do Rei. Santos Costa admite que talvez este tenha sido o ponto de partida da lenda do Padre Costa.
A enormidade do número de filhos terá sido uma forma de chamar a atenção para Trancoso. Na verdade, a cidade não precisava porque a sua história está repleta de lendas e eventos e personalidades relevantes.
Visitar as ruas e monumentos provam a riqueza do seu património de que são exemplo o centro histórico, os sinais da presença judaica na Casa do Gato Preto e na Sinagoga e, por último, a Casa do Bandarra, o poeta adivinho.
O Padre Costa de Trancoso que teve 299 filhos faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:
Já vi essa história velhíssima contada de muitas maneiras, em diferentes épocas, com diferentes reis e em diferentes localidades, mas nunca apareceu nenhum documento que a comprovasse. Duvido, aliás, que um perdão real mencionasse os factos em causa da maneira como eles são tradicionalmente relatados.
Recentemente li uma versão, do punho do grande médico António Ribeiro Sanches, escrita em 1775, segundo a qual o padre em causa se chamava Fernando e era de Arouca (não de Trancoso). Diz Ribeiro Sanches no manuscrito autógrafo que tenho à minha frente, que o Padre Fernando de Arouca foi perdoado por D. Afonso III, no século XIII, por ter feito 190 filhos a sete irmãs, onze afilhadas, quinze comadres, uma tia e cinquenta outras mulheres. Diz Ribeiro Sanches que a fonte é um documento da Torre do Tombo que o desembargador José de Seabra da Silva teria relatado ao tenente-coronel inglês Simon Frazer, que aqui andou na guerra de 1762.
Todas as versões da história do “padre povoador” aludem a um documento da Torre do Tombo, mas, de facto, nunca nenhum investigador o encontrou. Para mim, será uma lenda inventada, possivelmente por um protestante inglês.
Cumprimentos,
José Barreto