Em três tábuas se navega no rio Zêzere, em particular na Albufeira de Castelo de Bode.
Já foi a “camioneta” local, agora é mais para pesca e lazer e há apenas um artesão a construir os abrangeis, também conhecidos como barcos de três tábuas. É o mestre José Alberto que vive em Dornes, no concelho de Ferreira do Zêzere.
São barcos a remos com cerca de 5 metros de comprimento e a madeira é de pinho. As duas tábuas no fundo juntam-se com as laterais. São dobradas ao mesmo tempo até se juntarem uma com as outras.
José Alberto leva no mínimo dois dias a construir um abrangel e as encomendas são essencialmente para pesca tradicional na albufeira.
Em 2017 construiu quatro barcos. Em 2018 construiu quatro e tinha mais duas encomendas na altura em que falei com ele. O recorde foi em 1998 em que levou para as águas do Zêzere 33 abrangeis.
Os clientes são famílias que vivem à borda rio para pescarem e que pretendem manter a tradição.
No presente a necessidade de andar de barco é menor. As pontes e os açudes dão maior mobilidade e há muitos menos. José Alberto diz que na sua juventude o barco era o principal meio de transporte. Ele próprio designa-o como “a camioneta cá do sitio”.
Muitas pessoas iam para as hortas na outra margem, transportavam alimentos e até as cabras. Nessa altura praticamente cada família tinha um barco.
Foi esta arte que evitou que tivesse deixado Dornes. Começou a construir barcos de três tábuas com 31 anos de idade e para ajudar o pai que também começou tardiamente, aos 65 anos de idade.
A sua oficina é junto à estrada, na entrada de Dornes. Mas também é conhecido pelos seus dotes culinários. Além de assar leitões é exímio em pratos de peixe do rio.
Tem ainda uma outra qualidade. Percebe rapidamente quando o sino da torre templária toca de forma irregular. Uma qualidade que merece o meu agradecimento porque me foi abrir a porta da torre que, entretanto, alguém tinha trancado às sete chaves.
A camioneta de três tábuas do Zêzere faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui. O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:
Pingback: Levar o círio a Dornes e deslumbrar com o Rio Zêzere - Andarilho